28 setembro 2012

O Griô, MC Murcego


A outra face da história.

MC Murcego me apesento, pronto pra guerra,
Nasci no Bonfim vim das ruas de pedra,
Onde a historia esconde o sangue e o suor de quem ergueu a Igreja Matriz,
Que se esquece da gloria de quem não se rendeu a cicatriz,

Das lagrimas que correram da almas,
Dos calos que perfuraram as palmas,
Do açoite que feriu a carne e o orgulho,
Deixando no meio da esperança um grande furo,

E nas paginas dos livros escreveu falsos contos,
E escondeu a sete chaves debaixo dos escombros
Lebranças e memorias,
Da outra face da historia

Do passado deixou mentiras e maldade,
Mais eu sou cabeça preta, sou ira no combate,
Nas frases nas bases represento nas palavras,
De punhos fechados senti a força da pancada,

Minha arma é poesia,
meus versos tem semente,
Intolerância e poder
não alienam minha mente,

Em Pirenopólis eu vejo mortes, abuso de poder,
Mãe desesperada com vontade de morrer,
Em momentos de tristeza de dor de desespero,
Nesse mundo sem amor, vive em prisão, cativeiro,

Filhos inglorios genocidas,
Destruidores de família,
Pra preto e pobre, porta na cara,
Te joga na cela rouba sua vida e te mata
Agora um grito de basta, o rap entra na batalha,
Força que se alastra rima igual navalha,

Um pouco de coragem ao irmão desiludido,
Descendente de Zumbi não se esconde atrás do livro,
Na escola, na TV o preconceito, o desrespeito,
Ser obrigado a aprender suas mentiras seus conceitos,

O Brasil não foi descoberto, na verdade foi invadido,
Canalhas, escravizaram nosso povo, bando de bandido,
Se não acredita releia nossa historia,
Faça a soma da soma, o resultado é gloria,

Entre na escrita contra o capitalismo,
Do sonho ao pesadelo, pegue as minhas rimas e faça o seu livro.




MC Murcego:
Militante do Movimento Hip Hop na cidade Pirenopólis, interior goiano, navega entre o Rap, a poesia a militancia cultural. Utiliza sua música para fazer memória aos Griôs locais e as Guerreiras do Bonfim. Senhores e Senhoras que apresentam e narram a história da cidade, suas tradições e lutas.

Em minha primeira visita à cidade, numa madrugada, refletimos sobre a construção da beleza de Pirenopólis, tão aprecidada por turistas. Tal beleza é oriunda de trabalho escravo, são ruas de pedra e sangue.

MC Murcego tem seu trabalho reconhecido nacionalmente, em 2010 fora contemplado no Premio Preto Ghoez do Ministério da Cultura, dado seu comprometimento com a cultura e com o povo. Idealizador do Seminário e Festival Piri Rap realizado em 5º edições, integrante e educador do Ponto de Cultura Guaimbê, diagramador de livros, artista, pai e filho exemplar, MC Murcego é exemplo de vida e talento.


Por Markão Aborígine
Rapper e Conselheiro Tutelar do Distrito Federal

20 setembro 2012

Cadinho no Subúrbio? Vai manipular é o ca...!




A Rede Globo de Televisão nasceu quase junto com a ditadura civil-militar não por acaso. Ela veio com o propósito de difundir a propaganda ideológica do regime. Aquela ditadura, como a conhecemos se foi, mas a sociedade continua burguesa e, como com toda hegemonia, ela precisa dominar também pelas ideias.

E esse papel a Globo cumpre como ninguém.

Vários, mas muitos são os exemplos em q a sua dramaturgia se coloca a esse serviço.
A cidade do Rio de Janeiro, que sempre foi considerada a vitrine do país, mais do que nunca vem fazendo jus a esse “título”, visto que ela sediará o maior evento esportivo do planeta, as olimpíadas, além de jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. E é justamente por conta desses acontecimentos que a cidade está se remodelando. Está em curso a chamada faxina étnica, que expulsa do centro e outras áreas valorizadas, pret@s, retirantes e @s mais pobres no geral.

Além da forma clássica que conhecemos de remoções – na base da força – hoje está em voga a chamada “expulsão branca”. Esta consiste na “pacificação” de comunidades do Centro, Zona Sul e nas proximidades dos equipamentos esportivos onde acontecerão jogos dos mega eventos.

Essa tal pacificação traz a reboque uma espécie de reurbanização dessas comunidades – mas que visam atender muito mais os turistas e moradores do asfalto – e ainda, a regularização de alguns serviços que antes, na maioria das vezes, eram acessados de forma clandestina. Isso tudo torna muito cara a vida nessas favelas – transformadas em pontos turísticos – o que leva muitas famílias a se deslocarem para bairros distantes de seus locais de trabalho – até em outras cidades – com pouca, ou nenhuma, infraestrutura.

E no momento em que as famílias dessas comunidades, com apoio de militantes de partidos e movimentos populares, se organizam para resistir, acontece uma intrigante reviravolta na novela de maior audiência da Rede Globo, Avenida Brasil.

O personagem Cadinho (Alexandre Borges), empresário muito bem sucedido, se desdobrando pra ser um bom pai de três famílias, se descuida dos negócios e acaba falindo. Morador da rica e sofisticada Zona Sul carioca, ele se vê escorraçado pelas fúteis e consumistas esposas. Buscando a paz necessária para recomeçar a vida, ele busca abrigo, com amigos, no Divino, fictício bairro da periferia do Rio.

Ao mesmo tempo, Monalisa (Eloisa Perissê), pra satisfazer os caprichos do filho que fantasiava viver na Zona Sul, compra um mega apartamento no Leblon. Desanimada com a frieza, a soberba das pessoas e o alto preço da vida na Zona Sul, ela já pensa em voltar pro seu antigo bairro, que na novela, fica próximo à Madureira. Apesar de ambos serem empresári@s bem sucedid@s, ela é a típica suburbana que emergiu nos negócios, enquanto ele, o modelo do burguês de Zona Sul. Mas tanto ele quanto ela dedicaram boa parte de suas ultimas aparições pra falar das enormes vantagens da vida na periferia. São explícitas e constantes declarações de amor!

Pronto. O recado (subliminar) está dado. Apesar da abundância dos meios de transporte, do comércio (muitas lojas já ficam abertas 24h), de hospitais, escolas, das maiores oportunidades de emprego e lazer gratuito (é praia que não acaba mais), a vida no subúrbio é tão fascinante que é capaz de seduzir até membros da alta sociedade. Então, por que motivo moradoras e moradores do Santa Marta, Pavão-Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Canta Galo, Tabajaras, Quilombo do Sacopã... não aceitariam recomeçar suas vidas longe da fria, cara e tumultuada Zona Sul do Rio?

Se a principal fonte de informação da maior parte do nosso povo é a televisão, temos que estar vigilantes e combativos ao conteúdo da informação que o nosso povo recebe e consome, principalmente as subliminares que são transmitidas através de “inocentes” obras de arte, como telenovelas.

E pra ilustrar com arte o nosso debate contra a arte deles, aqui vai uma sugestão. Abalando as Estruturas Globais (O Levante)

http://www.youtube.com/watch?v=Y-S5yBj4r-8

Gas-PA – Coletivo de Hip Hop LUTARMADA.

18 setembro 2012

Quadrilha Intelectual: Nova força no Rap candango


Sério Multiplicação da Revolução

01 – A primeira vez que ouvimos um grupo chamado #Q.I – Quadrilha Intelectual, ficamos minimamente curiosos. Logo questiono sobre a origem do nome, assim como do grupo, bem como a ideologia que o nome e grupo carrega.

Q.I: Por Incrível que pareça, o nome surgiu por acidente na garagem da casa do Kalango, é uma formação de quadrilha sim, pois ao invés de agir com armas de fogo ou atitudes criminosas tentamos agir com inteligência, o que vem a ser uma junção de fatores, pois inteligência não está restritamente relacionada a conhecimento acadêmico, como já escrevemos em poesia: Inteligência não esta relacionada a conhecimento acadêmico, é saber pra vida e mente aberta a todo momento, os fatores são: humildade, respeito, analisar pessoas e situações sem nenhum tipo de preconceito, mente aberta pra aceitação de qualquer tipo de critica, e acima de tudo tratar o próximo com amor, o que está faltando hoje em dia e no começo fizemos um trocadilho com o termo “quociente de Inteligência”.

O grupo originou-se primeiramente de uma grande amizade que nem sabemos quantos anos tem, ideologias não só parecidas, como 99% iguais de duas pessoas diferentes. E sobre o que o grupo e nome carrega é a missão de falar a verdade e mostrar que ainda hoje, INFELIZMENTE, problemas sócias antigos são atuais e abrir os olhos da periferia/favela/gueto que “futilidade” mudou de nome, muitos a chamam de “evolução”.


02 – Qual formação do grupo e quais principais influencias a nível de Brasil e principalmente, Distrito Federal?

Q.I: A formação do grupo hoje é Kalango e Henrique, mas a quadrilha não para por ai, posso falar com propriedade que outras pessoas também somam direta ou indiretamente como: Markão, Glauber MC, Dj Liso e Raro, do projeto Aborígine, Jeferson, Iago e Vicente, personalidades que admiramos pessoal e profissionalmente falando.
O grupo que fatalmente mais influenciou o Q. I foi o Facção Central, e outros como A 286, Realidade Cruel, GOG, A Família, Inquérito e temos escutado muito ultimamente Thiagão e os Kamikazes do gueto do Paraná. Do DF, nossas principais influências e admirações são: Aborígine, Radicalibres, Diga How, Glauber MC, Correndo Contra o Tempo, Arsenal do Gueto, Comando Periférico, Resgate, Dj Jamaika e queremos ressaltar a postura do grupo Voz Sem Medo que hoje no DF é um dos poucos que tem o diferencial de não só fazer o show em si, mais trocar uma idéia e passar algum tipo de informação construtiva no palco e também o Comunicação Racial e Ocorrência Criminal que assim como nós são do Recanto das Emas.


03 – O grupo lançou recentemente o primeiro trabalho intitulado Capital da ilusão. Letra com forte conteúdo social e político. Conte-nos sobre o processo de composição e produção.

Q.I: Os méritos de produção são todos do Duckjay (Tribo da Periferia). O processo de composição foi bem lento, mais bem natural, pois analisamos temas a serem abordados, colocamos em tópicos e depois transformamos em rimas, também consultamos pontos de vista de amigos do RAP e fora dele, como Markão e Artok. Usamos como matéria prima a realidade social das periferias de Brasília, e como é de conhecimento de todos os que tem os olhos abertos pra atual guerra não declarada entre as classes sociais, sabem que o histórico de miséria e opressão é cotidiano das periferias a nível nacional, só tendo como diferença o calibre do armamento e quantidades de drogas de uma favela pra outra.


04 – Quadrilha Intelectual já participou do Sarau Samambaia Poética e já lançaram poesias na internet. Qual proximidade e sobretudo quais avanços o grupo enxerga que a Literatura marginal vem provocando nas juventudes periféricas?


Q.I: A proximidade é mesma que a do RAP, só que de forma mais educativa, pois até uma letra de RAP quando recitada ao invés de cantada, trás uma reflexão maior sobre o tema abordado na cabeça do ouvinte, e o avanço é justamente essa reflexão, pois em um show, de uma forma ou de outra é um pouco mais disperso que o sarau, já que no sarau há a possibilidade de fazer um debate, troca de informação e questionamentos após cada tema ou declamação, isso trás um aprendizado enorme, falamos por experiência própria a primeira vez que fomos ao Sarau Samambaia Poética, fomos como ouvintes e depois com o apoio de amigos tivemos o privilégio de participar expondo algumas poesias. Entendeu a transformação? Vamos ser ousados em falar isso, mas o show é bom e necessário, mais os saraus tem um impacto educativo maior e formação muito mais eficaz do que o próprio show.


05 – Quais experiências em Literatura Marginal conhecem ou tem como referencias do Distrito Federal?


Q.I: Temos em atividade o Sarau Samambaia Poética, recentemente tivemos 1º Encontro de Literatura Marginal e a Bienal do Livro, e como referências temos o GOG, Markão Aborígine e todos os manos que colam nos saraus, não iremos lembrar o nome de todos, mais estão nas ruas escrevendo não só músicas, mas bons textos e expondo nos saraus pelas quebradas.


06 – O grupo é oriundo do Recanto das Emas, periferia de Brasília. Como é ser morador, jovem e MC nesta cidade¿ Quais ações existem em prol do fortalecimento da cultura Hip Hop, e ou espaços\políticas públicas para a juventude?

Q.I: Para nós é uma honra, pois moramos aqui desde o primeiro ou segundo ano de existência da cidade, sobre ser morador não é diferente das demais quebradas, pois o ensino é fraco, não temos o mínimo de assistência hospitalar, como por exemplo há alguns meses atrás morreu um senhor no corredor do posto de saúde que diz ser 24 horas, mas só funciona quando é pra fazer filmagem daquele propaganda ridícula do GDF falando a seguinte frase: “Ta mudando pra melhor”, e vale a pena lembrar que nosso atual governador era médico e foi omisso ao se tratar da saúde e agora devasta as periferias gastando rios de dinheiro com a copa do mundo como se antes de governador tivesse sido jogador de futebol, e sobre ser MC infelizmente somos vítimas de preconceitos, em relação ao rap por ser uma música marginalizada, e as pessoas que agem com preconceito são justamente aquelas que estão no seu coração na hora de escrever uma letra, sobre as ações em prol do HIP-HOP nós notamos um certo regresso, pois já tivemos show que para nós foram históricos na cidade e hoje não mais, tínhamos com freqüência batalha de MC e tínhamos um evento/espaço chamado “Poeirão do Rock” que dava uma enorme oportunidade e respeito aos manos do HIP-HOP.


07 – Daqui em diante, quais projetos o grupo tem em mente? O que a periferia de Brasília pode esperar do Quadrilha Intelectual¿ Artisticamente e a nível de militância, que é tão falada pelo grupo.

Q.I: Já finalizamos a produção de mais uma canção que se chama ‘Evolução’ e queremos ainda essa semana lançaremos a mesma. O Lançamento ocorrerá nesta próxima sexta feira no CineClube Câmbio Negro que será realizado no Recanto das Emas, além de disponibilização na Internet.

Queremos também finalizar outro trabalho junto com nossos amigos do Aborígine que terá o título de “Baile das Múmias”, que particularmente gostamos muito e apostamos muito no tema polêmico que esse novo trabalho vai causar, sobre militância além da arte, temos projetos como o de fazer um Sarau Recanto Poético, pois a atitude do coletivo ArtSam é muito inspiradora e acho que nossa cidade também precisa disso, e poder contar também com os manos da Samambaia e outras periferias para fortalecer e concretizar essa idéia e recentemente tivemos no encontro RECID-DF (Rede de Educação Cidadã do Distrito Federal) que para nós foi muito significativo, já que tivemos oportunidade de conhecer pessoas além do movimento HIP-HOP que também estão empenhadas em mudar a realidade atual e contar as verdadeiras histórias e não as que são contadas nos livros criados pelos opressores, logo, queremos participar mais, aprender mais, entender mais, lutar mais, fazendo jus ao o que lemos em um livro recentemente: “Onde houver opressão, sempre haverá um rebelde”, esperamos que esse “um rebelde” seja multiplicado pelo número de gotas de sangue que são derramadas nas periferias.


08 – Espaço aberto com agradecimentos, salve e contatos! Muito obrigado.


Q.I: Primeiramente queremos agradecer a Deus, já que ele permitiu que nós estivéssemos cedendo esta entrevista, as nossas famílias que nos dão o devido apoio.

Nosso muito obrigado eterno, pois temos como pagar o favor e esforço do Aborígine (Markão, Glauber, Dj Liso e Raro) por ter organizado essa entrevista e nos ter dado oportunidade de expor alguns pensamentos e pontos de vista, esperamos que sejam esclarecedores e compreendidos, e pelos conselhos também, ao Jeferson e Iago que desde o começo quando o Q. I era apenas uma idéia sempre incentivaram, a Sarah e Alice que sempre quando pensamos algo novo estão do nosso lado para compartilharmos, ao Artok que nos incentivou bastante, ao Rdy (Resgate) que foi através dele que conseguimos contato com o Duckjay para produzir nossa música, ao Vicente que nos deixou honrado em criar a foto da música e está nos ajudando no novo trabalho, ao Al Unser (Subversivo) que é outro mano morador/lutador/rapper do Recanto das Emas.

Contatos: 9314-3269 ou 8575-0600.
E-mail: quadrilhaintelectual@gmail.com
Download: http://soundcloud.com/kalangoqi/quadrilha-intelectual-capital