09 março 2012

A Capital

Políticos, médicos, arquitetos, burgueses, engenheiros
Confortavelmente conhecidos como pioneiros

Nós? Pedreiros, serventes, pau de arara, mãos calejando
Expulsos do centro, discriminadamente chamados de candangos

A eles há o verde, arborização, local para esporte diversão
O nosso verde, há muito tempo utilizado por eles, como lixão

Possuem praças, jardins
Irrigados com a mesma água que falta por aqui

Três meninas tomba, Noroeste ergue-se
Cerrado ao chão, Condomínio prevalece
Destinação de equipamento público, por lei modificada
Para construção de Shopping na área pelo parlamentar comprada

Fauna e flora extintas
Menos os animais selvagens da nova câmara legislativa

Lá na capital, eles têm o lago Paranoá para elevar a umidade do ar, facilitando a respiração

Lá na Estrutural, nós temos um lago de churume que sempre que chove, transborda e invade a casa da população

Quão bom é possuir plano de saúde convênio
Para que nossas crianças não nasçam em corredores ou morram nos banheiros
É a falta de leito e higiene misturados a placenta
A capital grita de dor, pede socorro, mas não agüenta

Aqui o natal não tem chester, ceia, e sim um misto de tristeza e fome
E lá na capital governador distribui panetones

Uma Brasília ora pedindo ajuda, proteção
Uma outra ora agradecendo o cifrão, o enriquecimento, a corrupção

A capital é um filme no cinema
A capital é um filme no cinema

De um lado final feliz, de outro trágico
Eles tem pontos turísticos e aqui pontos de tráfico

Comum entre as Brasílias
Porém eles possuem dinheiro pra pagar a clinica
De recuperação aos seus dependentes e pra gente
Não há clinica de recuperação pra crianças viciadas, somente:
rua, redução da maioridade penal, prisão: correntes

Eu sigo amando através de minha música, de meus poemas
Construindo para a capital Outros 50.

02 março 2012

Belo Monte desaloja 400 em Altamira



Desde o final de janeiro, 400 pessoas já foram deslocadas de suas casas por conta da repentina cheia causada pelo barramento provisório de um canal do Rio Xingu, na área de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

O alagamento tem atingido inúmeras moradias dos chamados baixões, os bairros mais pobres da periferia da cidade, ocupados por casas de palafita, às margens do rio e canais d’água.
Boa parte dos moradores foram deslocados pela prefeitura para o Parque de Exposições Agropecuárias de Altamira (Expoalta). Uma parcela menor foi para o Ginásio Poliesportivo da cidade.

As famílias foram pegas de surpresa pela enchente. “Estamos acostumados a sair no final de março, começo de abril, quando já choveu bastante e o rio enche muito”, comenta o pescador Manuel, do bairro Invasão dos Padres, que teve sua casa destruída pela cheia e está vivendo precariamente no Parque.

Precariedade

“Eu nunca vinha pra cá. Sempre que enchia, eu alugava uma coisa pra minha família, aí a gente ficava lá uns dois meses. Mas com essa barragem o aluguel subiu demais e a gente veio pra cá”, conta Ronaldo, morador do bairro Boa Esperança. “Aqui é muito ruim”.

As instalações improvisadas pela prefeitura são precárias – no Parque, apenas dois banheiros atendem às cerca de 80 famílias lá instaladas. As caixas d’água chegaram a ficar uma semana sem água. Quedas de energia são constantes. As residências foram construídas dentro de estábulos, stands de exibição de animais e tratores, e barraquinhas de comida.

“A gente acha que eles enchem as caixas com água do [igarapé] Ambé. Muitas crianças aqui, e alguns adultos, estão com diarreia por causa da água ruim”, conta Azenir, moradora do bairro Açaizal, atingida pela cheia.

Ela também explica as dificuldades que a nova moradia implicou no modo de vida de sua família. “Minha filha provavelmente vai perder o ano na escola, porque não tem transporte pra levar ela daqui pro colégio”, lamenta.

“Eu e meu marido também estamos andando uns 4, 5 quilômetros a mais pra ir pro trabalho. Antes eu chegava em 10 minutinhos, contados no relógio”, explica Azenir. Também relata que este caminho é bastante perigoso. O parque de Exposições fica às margens da estrada que vai para os canteiros de obras da hidrelétrica, por onde passam dezenas de ônibus que levam os cerca de 5 mil trabalhadores de Belo Monte. “Um ônibus do CCBM [Consórcio Construtor Belo Monte] vinha ‘disputando carreira’ com o outro, aí veio pro nosso rumo.

Pra não cair pra debaixo do carro, eu tive que jogar a bicicleta pra fora da pista. A gente se arrebentou todinho. Perdi meu celular e as coisas que estavam na cesta da bicicleta”, conta a moradora.

Barramento

Especialistas concordam com a opinião dos moradores de que a cheia antecipada é decorrente do barramento provisório (ensecadeira) do canal do Arroz Cru, na Volta Grande do Rio Xingu. A professora e diretora do curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) de Altamira, Rita Denize de Oliveira, defende que o barramento está diretamente relacionado à cheia súbita do Xingu e seus braços d’água. “Geralmente, a visão dos engenheiros é de que, se você fazendo uma intervenção localmente, ela não vai refletir sobre a bacia hidrográfica.

Essa ideia é equivocada. Essas intervenções locais tomam uma amplitude, em termos de bacia hidrográfica, muito grande, sobretudo porque na area da Volta Grande você tem uma morfologia bastante diferenciada”, explica.

“Um barramento significa uma interrupção no fluxo natural das águas do rio. Interrompendo esse, reduz-se a capacidade do rio de liberar a quantidade de água que ele recebe”, pontua. No inverno amazônico, onde a quantidade de chuvas no mês de fevereiro é bastante elevada, a situação é mais problemática. “As perdas de água do rio, que aconteceriam naturalmente se não houvesse barramento, não acontecerão porque há essa intervenção nos canais do Xingu. A profundidade do rio foi reduzida, e assim, também se diminui a capacidade dele de receber água e de escoar, de liberar essa água. Com a redução da capacidade destes canais, você muda essa dinâmica, voce gera um excesso de água que vai atuar diretamente sobre essa população que não era afetada neste período, e agora já está sendo.”

A professora alerta que é possível que, com os barramentos, ocorram acidentes mais trágicos no decurso das obras. “Não se pode descartar a possibilidade de um acidente muito mais grave. Em fevereiro, já estamos enfrentando estas cheias. Se o volume de água tem aumentado, obviamente que a capacidade do rio e destes barramentos podem ser excedidas. As barragens podem se romper e teremos problemas sérios, como nas enchentes que ocorreram alguns anos atrás em Altamira, que geraram consequências gravíssimas”, conclui.

As famílias desalojadas moram nos igarapés – pequenos braços de rio comuns na região amazônica – Ambé, Panelas e Altamira, e também nas margens urbanas do Rio Xingu. Os principais bairros afetados foram o Boa Esperança, Baixão do Tufi, Açaizal, Invasão dos Padres e Jardim Idependente II.

Fonte: Xingu Vivo

08 fevereiro 2012

O Circo. Nova canção de Aborígine


Machismo, homofobia, gênero, preconceito racial são temas da canção ‘O Circo’ lançada no último domingo, dia 5 de fevereiro pelo projeto Aborígine.
Com letra e interpretação de Markão Aborígine, produção musical do baiano Diego 157 e gravada por Wty no MD Estúdio, a canção logo recebeu ótimas críticas do público, professoras e professores, artistas e jornalistas do meio.

O Circo é a primeira canção a ser lançado do álbum ‘O Canto dos Mártires’, segundo da carreira dos mesmos, com previsão de lançamento ainda neste primeiro semestre. Markão Aborígine, músico e coordenador da ação, é militante do Movimento Hip Hop e atua como Conselheiro Tutelar e Educador social no Distrito Federal.

A música “O circo” não é só uma denuncia, mas também uma convocação para o despertar desta gente nossa. Olhos atentos não são mais o suficiente. Ficar olhando as coisas acontecerem e não entender como isso afeta eu, você, todos nós. Já basta você não acha? Essa música realça a indignação, ao abordar na simplicidade que – Somos vitimas também de nós mesmos. Nós que não acreditamos na nossa capacidade de mudar as coisas, nós que só culpamos os outros, nós que nos vendemos e que fomos roubados de nossa crença, de nossa força, nós que não acreditamos muitas vezes em nós mesmo. Estão nos injetando a inconsciência, na forma de novela, músicas com apelo sexual, falsas referências, tudo escondido atrás do assim dito “Tempos Modernos”. Assim fica fácil este “circo” continuar fazendo piadas das nossas vidas. “O Circo” é uma Música de despertar. É isso.

Crônica Mendes, A Família.

Fiel à tradição do rap de fazer da música não apenas uma diversão, mas também uma forma de olhar criticamente para o mundo, o rapper Markão Aborígine uniu ritmo, letra e consciência política, o que resultou na criação de sua mais nova música, “O Circo”. Ao longo dos quatro minutos e dez segundos de duração da música, Markão Aborígine denuncia em suas rimas o preconceito e a hipocrisia (“Quem tem preconceito, levanta o dedo. Uai, cadê, não vejo ninguém?”), o consumismo capitalista que transforma tudo em mercadoria (“O capitalismo que vende fritura, também vende redução do estomago”), a sexualização despejada nos lares pelos monitores de TV (“Até quando a gente não vai compreender o amor/ Como verbo até divino e não somente pornô/Reality show, musa do carnaval, hit do verão/Que faz criança de 3 anos rebolar no chão”). Markão Aborígine faz de seu rap um ato político, música para dançar e pensar.

Fernando Freire. Poeta e Diretor da Escola CEF 08 – Gama DF