11 setembro 2009

Entrevista ao Portal Central Hip Hop


Novos Samplers: Poesia e consciência Aborígine
Data: 03/09/2009

Desde 1998 na caminhada no cenário do Rap Nacional, Markão é Aborígine, artista e educador popular envolvido em movimentos sociais e ONGs do DF, lança agora o seu primeiro CD intitulado “Dia e Noite. Dia Açoite. Noite Fria”.Esse álbum traz letras com forte conteúdo político e protesto,abordandoo mercado de trabalho, preconceito e discrimicação aborto e sexualidade. Abaixo, alguns trechos das idéias sérias de Aborígine.

Central Hip-Hop (CH): O que é o Aborígine?
Aborígine: Aborígine,é um trabalho artístico e social que desenvolvo, integrando a música e oficinas de formação em escolas e organizações em geral. Iniciei minha carreira no ano de 1998, transformando matérias escolares em poesia e em Rap, participando de festivais e mostras escolares no ano de 2000,integrei-me ao Grupo Êxodo, onde fomos vencedores de festivais com a música ‘O Azul de Uma Caneta’, porém um dos integrantes converteu-se ao protestantismo e saiu do grupo, o outro, devido aos estudos e profissão, afastou-se do projeto.

Assim assumo a nomenclatura Aborígine, cujo significado “natural da terra”, é constantemente trabalhado em minhas canções/poesias. Seja fazendo memória de lutadores e lutadoras que brigaram por um Brasil de liberdade e igualdade, ou através do uso de samplers’s de artistas da música romântica brasileira vulgarmente chamada de brega, ou mesmo do repente, cordel.

CH: Como foi a produção do seu CD:
Aborígine: Este ano lancei “Dia e Noite. Dia Açoite. Noite Fria”, meu primeiro álbum contendo 13 faixas musicais, onde pude assinar como produtor de 6 músicas e co-produtor de mais 3, colaborando com Dj’s Qnnyo,responsável por 4 instrumentais e Liso, responsável por uma canção,além de dois sons que foram tocados e gravados em voz e violão.

Estou preparando para este mês um CD de poesias intitulado “A vida em poesia”, composto por poemas de minha autoria e do poeta Luiz Vieira,celébre artista de minha cidade.

CH: Que tipo de Rap você faz? Como são elaboradas as letras?
Aborígine: “Rap amador! Não por falta de profissionalismo, mas por excesso em amor”.Tenho identificação com grupos nacionais como Gog, Face da Morte, SNJ, X (Câmbio Negro), entre outros. Fora do Brasil: Actitude Maria Martha,Valete, Fugees e Mos Def, sendo que gostaria de conhecer mais a fundo cada um destes citados, suas letras, história de vida, militância.

Os temas das minhas canções surgem naturalmente ao se deparar com as realidades. Porém, busco aprofundamento teórico, pesquiso os temas para melhor tratar o assunto. Sempre com a preocupação em relação aos ouvintes, pessoas de todas as idades e gêneros irão ouvir. No CD os temas abordados vão de sexualidade, mercado de trabalho, consumo excessivo de álcool à política e reforma agrária. Busco trabalhar a métrica, mas principalmente a poesia.

CH: Como é a cena no Distrito Federal/Samambaia? Quais grupos se destacam?
Aborígine: Organizada,porém desarticulada. Existem projetos sociais ligados ao Hip-Hop em praticamente todas as cidades, porém agem de forma isolada. Não há um enfrentamento distrital (estadual), ou fórum de Hip-Hop, o que provoca,acredito eu, enfraquecimento do movimento como um todo. Batalhas de breaking e eventos em geral são marcados no mesmo dia, o que provoca redução no número de participantes, pois além das cidades serem longe uma das outras o transporte público do DF tem a passagem mais cara do país.

A mídia especializada em Hip Hop ainda insiste em plantar estilos ou vertentes. Em praticamente todas as rádios se ouve os mesmos grupos e as mesmas músicas. Sempre trazem os mesmos artistas de fora.

Mas em contrapartida há coletivos se organizando e criando seus espaços de divulgação como blogs e sites, eventos onde se prestigiam vertentes como o Underground, político. E desta organização virá uma grande transformação no cenário, acredito e luto por isto.

Citando esta nova cara apresento: Grupo Suburbano’s, música suingada, pra cima,composta por militantes de movimentos sociais, que em suas apresentações buscam interagir com os 4 elementos, Coletivo Aquilombando pelo profissionalismo, com presença de palco indescritível. Coletiva Art. ’vistas, já reconhecido através das rimas dos MCs Rapadura e Maresia, Prédica Febril e Selo Guetunido – Letras conscientes e fortes aliadas a ótima presença em palco, além dedesenvolverem ações sociais e culturais como o evento “P Norte EmAção”. Diga How, representantes do Rap em diversos festivais demúsica, Coletivo ArtSam ao qual faço parte. Muita coisa boa vem sendofeita e produzida.

CH: O que falta no cenário Rap da sua região atualmente?
Aborígine: Articulação,engajamento e formação para se apropriar e empoderar-se de veículos de comunicação, para transmissão de vertentes/linhas musicais existentesdo Rap.

No DF muitas vezes isto fica preso há algumas pessoas/equipes de som e os grupos personificam a dependência. Temos que nos conscientizar que precisamos criar e buscar novos públicos e não somente esperar um lazer, um baile ou uma rádio para mostrar nossos trabalhos. Vamos avante, se inscrever em Festivais, promover Sarau como São Sebastião e Samambaia vêem fazendo, interagir e integrar nossa música nas escolas e apropria-se da ferramenta da internet.

Ao meu ver , falta esta cultura de proximidade, articulação e construção coletiva para superação dos problemas existentes em comunicação,difusão, comercialização, preconceito.

CH: Você acha que o Rap do seu Estado tem dificuldades em se expandir pelo Brasil?
Aborígine: Sim.Pela historicidade do movimento em Brasília. Foi-se criado um rótulo onde diz-se que as músicas do DF são as mesmas, tem o mesmo estilo.Ouvi isto em praticamente todos os estados onde pude ir.

E esta falha na comunicação e difusão do Rap no DF, trazem elementos quecontribuem para isto, porém o externo também não possibilita mudança,temos notícias de experiências de vários estados, mas quando aqui chegam não vêem com uma visão de partilha ou coletividade.

Por Bruno Gil