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TERESAS

Quantas?
Quantas?

Teresas, Antonias, Marias, Amélias
Não sabem, mas são rainhas todas elas
Acordam de madrugada, limpar a casa, fazer café
E seu companheiro nem mesmo está de pé

Segue a jornada, prepara a marmita
Não recebe um bom dia, mas a palavra que humilha
Ouvindo a ingratidão gritar
Mulher não faz nada, só fica em casa
Eu que trampo pra lhe sustentar

Recolhe o choro no olhar
Sabe que durante o dia terá que cozinhar, lavar, passar
Em pensamento "Deus é mais, vou superar"
Onde se escondeu o homem que escolhi pra amar?

Nesse conto, o príncipe tornou-se o sapo
Morto ou adormecido, naquele corpo magro,
Abatido com roupas que mais parecem sacos
E o perfume agradável acabou

Deu espaço ao hálito forte de 51
Noites brigas sem motivo algum
Gritos são tiros disparados em sua cabeça
Palavrões, agressões pra que jamais esqueça

"Ei Teresa você é minha mulher
E com você eu faço o que eu quiser"
Violência física, psicológica
"Ela gosta disso", mas qual sua ótica?

Mulher de malandro gosta de apanhar?
Talvez sua baixa estima, não a faça enxergar
Que é ser humano e tem dignidade
Mas cresceu ouvindo que ''mulher não é gente de verdade''

Numa pia
Lava roupas com água fria
Enquanto escorrem lágrimas quentes
Lava a tristeza e odor de aguardente
Tão presente em cada dia

No corpo as marcas,
Nos olhos as lágrimas que não secam jamais.
Mas eu ei de encontrar minha paz,
Eu ei de encontrar minha paz


E agora mesmo ele está no bar
E pra aumentar a renda terá que costurar
Vive fazendo remendos, tapando buracos do orçamento
Por dívidas que faz sem teu conhecimento.

Não entendo, como pode está escrito 'ambiente familiar'
Acima das bebidas que vendem no bar
Se é este mesmo bar
Que destruiu meu lar

Eu queria como muitos, admirar o entardecer
Contemplar um céu lindo ao anoitecer
Mas é justamente nesse horário
Que ele sai do trabalho

Meu filho esconde-se no quarto, ao ver barulho no portão
Fecha o caderno, interrompe a lição
Chora num canto ao ouvir o palavrão
E diz ''papai não fala isso não''

Eles são minha fortaleza
Por eles não desisto aconteça o que aconteça
Escrevo pequenas receitas numa caderneta
Salgado, chocolate, doce, sobremesas

Compro revistas, vagonite, tricô, crochê
Meus filhos não precisarão de você
Escreve uma placa improvisada num papelão
Com um barbante estende naquele portão

E vê ali, superação de suas mágoas
"Aceito encomendas de ovos de páscoa"
Maior dádiva, escrita com suas próprias letras
Após os 40 anos, matriculou-se no EJA

No corpo as marcas,
Nos olhos as lágrimas que não secam jamais.
Mas eu ei de encontrar minha paz,
Eu ei de encontrar minha paz


Eu sou guerreira por natureza
Eu sou Maria, Sou Antônia, Sou Teresa
Eu vou lutar
Eu sou guerreira por natureza
Eu sou Maria, Sou Antonia, Sou Teresa
No corpo as marcas
As lágrimas que não secam jamais
Mas eu ei de encontrar minha paz.

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ANDARES

Prioridade! Quando? Onde?....

Onde vivo? Em um contexto de conformismo e exclusão
Construídos a partir de uma falsa educação
Que não partilha com o outro segue em uma linha vertical
Manipula e enriquece com uma servidão social

Mutação: homens e mulheres transformadas em ferramentas
Globalização: somente a dor sustenta
Escravidão: por três centavos a criança costura
A blusa exposta no outdoor, na rua.

Vendida e usada nos templos da cifra, do níquel.
Em um natal que se espera por neve e não por um certo Cristo
Gestos de carinhos e abraços quentes
Trocados por fumaças, entorpecentes, é deprimente.

Procura-se aquecimento em grandes saunas
Enquanto em carvoaria se queima a pele não se aquece a alma
Do trabalhador, dia a dia, braço a braço.
A brasa aquecida não alimenta família em um rodízio farto

Sempre abaixo, o povo se encontra em uma pirâmide de fome.
Enquanto no pico os faraós comem
Pra enganar o organismo cheiram cola, drogas consomem.
É a infância da rodoviária sem rosto, família ou nome.

E por onde caminharam? Ruas tortas e barracos
De madeirite é o pau a pique modernizado
Nômades: num cerrado, num florão.
Mudam-se, mas o lar foi sugado pela erosão.

Pés no chão, carroça, mas não são animais.
Papelão, PET, vidros, metais.(Por uns reais)
Futuro aproximado, escola existe, mas não vai.
Crianças comercializadas, amadas? Não mais

Mas desejadas, sexualmente falando.
Por seres que não devem ser chamados de humanos
Mas pensando como 2, 3, 4 mulheres não saciam.
Logo procuram éguas, cadelas: animais em cio.

O nojo fabricado por cada campanha publicitária
Não se mostra os pés ao venderem-se sandálias
E a inocência cai em andares, sangra em maletas.
É aprisionada em porões nos coroes da tristeza

Ao mesmo tempo em que é despesa gera lucro por hora
É a infância brasileira traficada e explorada em bordeis na Europa.

Inocência? Não
Carinho? Não
Um livro? Não
Mas exploração
A infância é o último pulsar do coração


As pipas dividem espaço com urubus
Na pista não há rolimãs, mas carretas.
O dia se passa com pouca luz
Se respira em um eclipse de poeira

Lonas, madeiras, pedaços de telha, pregos expostos.
O piso batido, fios, emendas, sustentam esforços.
Trabalho diário, raro descanso, sonho pretérito.
Pra que no futuro não tenha trator ou tumulto, a derrubar o lar, o teto.

Singela morada que externiza orgulho
Apenas uns palmos num canto do mundo
Apenas a mata que fica nos fundos
Da câmara, senado, ou debaixo de viadutos.

Sobras de obras viram carroças que por horas trafegam
Levam pra casa o que sua casa nega
O velho, o podre, o que se perdeu, que a promoção não vendeu.
Fora de moda agora são velhas

E a compra do voto em camisa impressa
Comumente utilizada de sul a norte
Trazem a certeza de falsas promessas
Pois vestem estas e não uniformes

Pro aumento da renda a infância não dorme
Na noite procura, vasculha o lixo.
Aguarda descarga proveniente do shopping
Mas o cansaço é forte e acaba dormindo

Em cima do monte de produto vencido
Faz deste mesmo lixo o seu cobertor
Ao amanhecer família chora
Criança foi morta, esmagada por um trator.

Inocência? Não
Carinho? Não
Um livro? Não
Mas exploração
A infância é o último pulsar do coração


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O AZUL DE UMA CANETA

Trabalho, serviço, o que que é isso?

Acordo bem cedo, missão encontrar emprego.
Ônibus lotado, mal alimentado, vários do mesmo jeito.
Olhares em que só vejo insegurança
O corpo de pé, mas adormecida a esperança.

Pela janela noto boas condições, privilégios.
Contando moedas para o meu retorno ao inferno
Nessa curta viagem vejo dois mundos
Onde sou um degrau a ser pisado na escada do futuro

Sirvo pra servir, do básico ao acabamento.
Barrado na entrada, porta fechada, suspeito, elemento.
Minhas mãos calejadas deram o nó em muitas gravatas
O suor de meu rosto ainda limpa suas privadas

A procura de mais uma chance...Ó aqui estou
Chegou minha parada minha jornada começou
Avenidas, endereços, entrevistas, imploro.
Dou meu sangue por um subemprego, por favor, vem logo.

Curriculum não tenho, mas me empenho palavra de homem.
Minha agonia se soma a de todos os meus clones.

Nunca, nunca, nunca posso desistir.
Não posso desistir não.


Bater de porta em porta e o que vier aceito.
Lavador de chão, peão, servente, pedreiro.
Aceito o que tiver de braços abertos
Só pra ver meu filho com um caderno

Não hei de me render, meu Senhor és forte.
Um centavo honesto é um milhão perante o ouro do revolver
Mesmo que do lixo tire meu sustento
Da sobra do restaurante meu alimento

O dinheiro é necessário pro comer, pro vestuário.
Me contento com diárias, mas meu sonho é um salário
E na carteira de trabalho ver o azul de uma caneta
Hoje não realizado! No céu estrelas
Que iluminam meu desgosto, meu entristecer.
Juntamente a uma pergunta: Emprego algum por quê?
Talvez porque o segundo grau não tenha completado
Ou pelo endereço do meu lar, do meu bairro.

Entre o endereço de firmas perdi meu vale transporte
Dormi fora de casa não, não pode.
Se eu pedir eu sei que alguém vai me ajudar
Mas: “Sai fora vagabundo tu quer é se drogar”.

Não senhor, sou pai de família trabalhador,
Por favor, senhor me ajuda,
Por favor, me ajuda, por favor, senhor me ajuda.
Mas...Mas...Mas...

Nunca, nunca, nunca posso desistir. 4x
Não posso desistir não.


Achei uma cobertura vou deitar, tenta dormir.
Espero que ninguém venha se divertir
Minha carteira de trabalho em branco vira um diário
Onde a caneta escreve o triste fato

Mais um dia cansado, sem emprego.
Portas se fechando, o caminho mais estreito.
Escutando insultos, vítima do preconceito.
“Não contrato bandido, não contrato preto”.

Pros homens um suspeito, humilhado pela madame.
Soco, sangue, e como se não fosse o bastante.
Sem emprego, sem experiência.
Será que vou acordar com consciência?

E ver minha família sem um salário
Ou será que esta noite morrerei queimado?

Nunca, nunca, nunca posso desistir.
Não posso desistir não.


Não posso desistir, vou ter que prosseguir,
pois a caminhada é árdua na nação;
É triste meu irmão, ver meu filho sem um pão,
mas se hoje eu não consigo amanhã eu vou atrás.

Meu filho não vai mais chorar,
minha mulher vai se alegrar,
uma vida boa eu vou lhes dar.
E tirarei as amarguras
O sofrimento, a dor sem cura.
E lhes trarei tudo aquilo de bom eu sei.
E derrotado nunca serei.

Mãe por que o papai ta demorando?
Será que vai trazer o brinquedo que quero tanto?
Eu vejo nos teus olhos que a senhora ta preocupada
A senhora sabe de alguma e não quer me dizer nada

Não, não é nada não, são apenas umas contas que tenho para pagar
Vai assistir o desenho que já vai começar
Mas a esperança e o desenho foram interrompidos
Acharam na noite passado o corpo de um mendigo
E uma voz inocente que não exita em dizer:
E uma voz inocente que não exita em dizer

“Mãe olha o papai na TV.”

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NOMENCLATURA

Aborígine, uma canção é ação do amor,
Quem sou eu?O cantador que canta a dor

Eu canto em todo canto, quando canto não encanto
Pois meu canto em quem escuta só traz espanto
Pois analiso a conjuntura da inexistência da alegria
Dia e noite, dia açoite, noite fria

De madrugada, mãos calejadas pedem a parada do ônibus
Se dirigem ao combate, mas no primeiro round soa o congo
Derrota. Ao invés do lábio amado sentem a lona
Após o máximo recebem o mínimo que compra a mortuária semi-pronta

Não é faz de conta, mas se conta o que se faz
Põe-se data de validade. Não mais trabalharás
Aliás, sou ensinado a ser individualista
Aprendo a administrar mas não ajudar a quem precisa

E assim é a fila de graduados, formados, doutorados.
A procura do trampo onde varrerá seu currículo rasgado
Resultado alcançado sem esforço pela elite
Que comemora com vinho do porto no conforto da Fashion Week

Um calçado onde o cadarço equivale a meu salário
Enquanto isso uma pessoa morre a cada três segundos por não ser alimentado
Quanto vale uma vida?
Responda-me você desta corja legislativa maldita

Recebem três vezes o salário, mas nada faz
Convocações à orgias sexuais, tem mais.
Estes, que financiam a exploração por contenda
Como o governador que mantém o trabalho escravo em sua fazenda

Eu canto e em meu canto questiono a pena branda
O cifrão criminoso, a guerra negra, a paz branca
Quem canta? O natural da terra Pindorama
Em luta nomenclatura Marcus Dantas

Ei! Aborígine ainda canta...
Não é show(não,não), é militância!

Enquanto houver opressão e violência
Haverá luta e resistência


No Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João.
No sertão onde a palma de gado se faz alimentação
Feijão é cozido na lata de alumínio. Verdade
Em outra parte, berço 18 quilates, foi sustagem,tecle Sap.

Entenda que os Brasis são bem parecidos
Não existem diferenças entre pobres e ricos
Apenas um erro em substantivos
Um é bandido e o outro cleptomaníaco

Frutos perdidos da família que não conversa
Uma muito pouco e a outra através das teclas
E nessa terra, nesse contexto, escrevo texto, com o pretexto
De voltar a ação e uma ação com efeito

Pois meus feitos são bem feitos, denunciam os defeitos
Encontrados em senadores, deputados, prefeitos
Estes, que financiam indústria da seca, enchente.
Constroem atingidos por barragens, destroem esta gente.

Indigentes que migram em busca de escritórios
Tal sonho os desviam a cidades, dormitórios
Obvio. Aceita-se currículo com foto
A aparência leva a competência a óbito, triste episódio.

Mamãe me dá boneca, papai uma bicicleta.
Ao pranto se entrega e molha a terra
Onde floresce o subemprego, o viaduto habitat
A resistência vem em sementes que se tornam um belo colar

Eu canto e em meu canto pronuncio a esperança
Tocada em latas de tintas por jovens e crianças
Quem canta? O natural da terra Pindorama
Em luta, nomenclatura Marcus Dantas.

Ei! Aborígine ainda canta...
Não é show(não,não), é militância!

Enquanto houver opressão e violência
Haverá luta e resistência


Eu canto e em meu canto uso a mesma narrativa
O discurso de uma vida coletiva
Que é vivida não por uma, mas por tantas.
Em luta nomenclatura Militância.

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O CIRCO


“Ninguém nasce odiando outra pessoa, pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião,
para odiar as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, também podem ser ensinadas a amar
.”
Nelson Mandela

E pessoas pequenas, vulgarmente chamadas de anões
Por tempos atrações de circo como aberrações
Humanidade prepotente, arrogante
Transformam doentes em homens elefante

Por diamante, pau Brasil, ouro e prata
Escravizam! Justificativa: não possuem alma
Por quanto tempo esconderam através da palavra: ganância
Industria farmacêutica propaga falsa esperança

Com discurso da cura, injetam o câncer na África
Assim se lucra, extermine o povo, resta a terra farta
Acabar com a miséria ou com os miseráveis?
Resposta capitalista: ogivas nucleares

Semelhante a África eu vejo o agreste, o sertão
Olhados com asco pelo resto da população
No sul só são Baiano, Paraíba
Na novela, fofoqueira, interpretada pela artista

No Piauí, família sulista compra terra, planta soja
Paga a vista o sofrimento a preço de esmola
Nessa horas eu vejo Hitler presente
No homossexual ferido com a lâmpada fluorescente

Até quando a gente não vai compreender o amor
Como verbo até divino e não somente pornô
Reality show, musa do carnaval, hit do verão
Que faz criança de 3 rebolar no chão

Amassa a latinha que o pai bebeu
Entorpecido, agressivo, na esposa bateu
Logo a criança reproduziu
O palavrão que na televisão ouviu

Monitor hostil, propaga discriminação
Na turma da Mônica, o negro não banha – Cascão
Até que o negro entra na programação
Faustão anuncia: Beleza feminina, mulata, marrom bom bom

Que atendem a industria do sexo
Em cada propaganda de cerveja, mulher objeto
Dia Dia, Note e Anote, Mais Você, não importa o nome
Na TV mulher é moda, cozinha, receita, silicone

Na nação patriarcal, nada surpreende
A mulher é apenas um A entre parênteses
Tríplice jornada, remuneração alguma
e até o Rap trata como vagabunda

A cada um e cada uma, escute a voz que canta
Que o homossexual não seja a extravagância no programa
Sempre o motivo das piadas
Sempre o despertar das risadas

Humanidade amarga, imbecil, inumana
Não consegue sentir,não sorrir, nunca ama
Não é segredo pra ninguém
Quem tem preconceito, levanta o dedo. Uai, cadê não vejo ninguém?

Ainda bem... Que canto mentiras, mas não
Aonde você guarda a discriminação?
Na piada da escola que se chama bulling
Ou no apelido inocente, cruel e rude?

No vomito forçado com vergonha do corpo
Pra atingir o padrão de beleza da Globo
Que nunca será atingido
Por ginástica, plástica, cosméticos e lipos

Pois esse padrão resulta em bulimia
Osteoporose, fobia, anorexia
E na vitrina, um só manequim, um só peso
Como se não existissem obesos

Acuados na roleta do ônibus
O Capital que vende fritura oferece redução do estomago
Até quanto a humanidade marchará em ré
Transformando aberrações na beleza de Soleil.

Nós não somos diferentes
E sim diversos

Mas também somos monstros
Não por fora, mas aqui dentro

Nós que julgamos e excluímos
Nós sim somos as aberrações

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OSSOS SECOS

O sopro de vida que bate em meu peito
O sopro de vida...
O sopro de vida que traz a vida
Aos ossos secos...

Pro o azul do céu se clama que no solo aja um verde
O pranto que cai é a água que a terra não sente há meses
Vida sofrida, cacimba vazia, riacho de terra.
Carne resseca, mas a esperança não hiberna.

É embalada pela cantiga, pelo som da viola.
Pela nuvem negra que mal chega e já vai embora
Na roça, carroça de palma, para o gado, cultivador.
Devido à gota que caiu daquela nuvem que passou

Lavrador. Sempre na certeza que não esta a sós
Sua esperança é resistente à seca como um Aveloz
Inspiração pra nós da caatinga de concreto
Frustração no pretérito e pro futuro incrédulo

Pra que? Por quê? E Como?
Suponho que já foram de encontro aos seus sonhos
Esperar, alcançar – verbos ligados.
Espera e alcança, mas não na cama, acordado.

Levanta e anda, pois a chama arde e nunca é tarde.
Nos ossos secos brotarão músculos e carnes
Nas adversidades o crer não pode ser morto
Pois a vida vem do azul do céu em forma de sopro.

O sopro de vida que bate em meu peito
O sopro de vida...
O sopro de vida que traz a vida
Aos ossos secos...


Em partículas de água vejo o rosto de um só povo
Enxergar uma beleza nas cores do arco-íris é o tesouro
Que deve ser admirado como um bem comum
De modo que unidos na mão, não sejam, senão um.

E não distintos pelo reflexo do espelho
Homem é homem. E não homem branco/homem negro
Livres da exclusão de nobres horários
Em novelas os índios não serão brancos maquiados

Do quadro negro e do giz branco flui o ensino
Isolados só resta o vazio
Tal vazio que se expande
Faz enxergar diferente cores em um vermelho de um mesmo sangue

Mas relevante é o todo em um e o um em todo
O pequeno gigante o fraco poderoso
O insulto, o conflito, o olhar agressivo.
São interrompidos pela força de um suspiro

Gemido produzido pela idosa debilitada
Que em sua fraqueza busca força e traz a calma
Pára! Quem briga se reconcilia
Esta idosa é o osso seco com sopro de vida.

O sopro de vida que bate em meu peito
O sopro de vida...
O sopro de vida que traz a vida
Aos ossos secos...


Pois a vida é pra se viver
E a felicidade alcançar
Com dignidade colher
E solidariedade plantar

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AS PRIMEIRAS LETRAS DO ALFABETO

Antes alcançávamos, amizade, amor à arte.
Agora atingimos, armas, algemas, ápice.
Alienados, amarguramos, atiramos
Atravessamos a atmosfera, ainda andamos.

Acabando, atrasando, arruinando
A alma antes aberta agora acoima ao avanço
Azarenta arruína a amigos
Arranca, abafa, abate ao alívio

Abolimos a alegria, aceitamos ao avesso
Ainda asseguramo-nos, atestamo-nos aos acertos
Atravesso a avenida, acelero à alguém
A arte armada amedronta. Ave... Amém

Atinge abundantemente, acaba a alegria
Adia a anistia, ação aterroriza.
Ataca algo, alguém. Acrescenta a agonia
Atribui a alguém aonde a alienação asfixia

Alicia, altera, arrebenta alicerces
Apenas apela as angústias aparentemente alegres
Antes alcançávamos aptidão, atitude
Agora atingimos armas assim ataúdes.

Bravamente brigamos, batalhamos, (Brasil)
Bombas, bandidos, bandos, (Brasil)
Bombardeando, benfeitores, brasilianos,
Bravos, brutos, bambas, brincando,

Bravamente brigamos, batalhamos, (Brasil)
Bombas, bandidos, bandos, (Brasil)
Bases, batidas, brasília, bravesa,
Benevolente, busco brotar beneficência, beleza


Corruptos corrompem cidadãos com covardia
Crimes com causa certa contra cidadania
Candidatos. Canalhas com contrato
Certificam-se, cheques, cestas, cartões, cidadãos comprados.

Como cabrestos, currais construídos com concreto.
Carreatas, contribuem com crescimento, cemitérios.
Criminalidade, contamina, comanda comunidade
Cultura cai, corrupção cresce, chacina, cárcere.

Característica certa, centros, caatinga, cerrado
Capangas, cheira-cola, calafrio, cisma, cansaço
Corações cauterizados, catástrofes.
Cavalaria, cacetete, calabouço, choro, choques.

Cenários cheio, caçadores cinzentos carregam códigos
Covardes, criminosos
Corajosos caem cronicamente. Coma
Clausulas, causas, cada cinco contra.

Cinco. Certificados cara cuidado.
Crimes? Câmaras, congressos contém capitulados.
Carregue consigo cara coragem.
Cristo concede, combate. Capital criminal canta cale-se

Como costume caminha comandado
Canção completada, cantada calado.
Corpos cegamente cometem ciladas
Consciências corrompidas, corpos, covas cavadas.

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NATURAL DA TERRA

Como Conselheiro incomodo o sistema sem o uso de armas
Aborígine. A ação faz a vanguarda
Com formação não há dominação, retrocesso
Microfone dispara rimas, atitude, protesto.

Diferentes a aqueles que o próprio idioma nega
Que enxergam heróis naqueles que promovem a paz com guerras
Persegui o talibã pelos afegãos foi pacífico
Mortes causadas por patrocínio

Deles próprios. Estados Unidos da América
Se a Amazônia é o pulmão vocês são...
Bem parecidos a parlamentares, terno e gravata
Que reduzem a alegria do povo em uma cesta básica

Contorcem meu caráter, minha imagem é de bandido
Me negam o lazer e mesmo assim não fui eu que assassinei o Galdino
Eu sei que sou teu alvo. Tua munição não me acerta
Minha mente é revestida de aço, sou Lamarca, sou Marighela

Pronto pra guerra: Natural da Terra
Pra viver de defende esta terra


Do ódio e tristeza, seqüestro o embaixador
Sem usar de torturas transformo a alegria em amor
Dou aos pobres o que com suor tirei dos ricos
Sou cangaceiro, nordestino, sou Brilhante, Jesuíno

Não comemoro hipocrisia, festejos, vai ver
Sou excluído, sou sem terra, sou Pataxó Matalauê
Mais de cinco milhões de almas representa o jovem aqui
A dor dos xavantes, tapuias, caiapós de tupis

Sou senzala, mas se preferir sou a favela
Sou o escravo no açoite, sua seqüela
Sou quem cresceu desconformado com as desigualdades
Sou imortal, sou ágil, sou Zumbi dos Palmares.

Canhões de consciência apontados a o governo
Sou João Candido o almirante negro
Pulmão brasileiro defendo com unhas e dentes
No jardim de Margarida, vive sempre Chico Mendes.

Natural da Terra
Pra viver de defende esta terra


Ribeirinhos, seringueiros, bóia fria, carvoeiro
Sou a coluna que percorre os estados brasileiros
O R puxado, o S chiado, sou a catira, sou o repente
Sou o forró, sou o bumbá, sou tchê oxente

Sou o arroz tropeiro, baião de dois, sarapatel, o açaí
A buchada de bode, o queijo, o pequi
Sou a mistura, sou mestiço, sou um só
Sou a criança, sou o adulto, sou o avô, sou a avó

Sou caatinga, sou sertão, sou o cerrado
Sou pantanal, sou planícies, sou planaltos
Sou São Francisco, Amazonas, Parnaíba
Sou as nascentes, as correntes cristalinas

Sou as grutas, vida selvagem, fauna e flora
Sou o cantador que canta a dor com pandeiros e violas
Sou instruído, destemido, revoltado, sou a chama
Sou mais um louco desta terra, prazer: Pindorama.

Pronto pra guerra
Pra viver de defende esta terra


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PRETÉRITO IMPERFEITO

Minha vida tem um pretérito imperfeito num país que desce redondo
Segue arruinando sonhos, quantas? quantos?

Como é belo o nascer de uma estrela vivida
Nunca pude contemplar com um andar tremulo, mente entorpecida
Senti a brisa do orvalho, mas logo foi envolvida
Pelo refluxo alimentício, pelo perfume combustível que incendeia e vicia

Se subia de degrau em degrau em silêncio
Pois o filho não interrompe o sono da mãe em sofrimento
Consciência inativa, cansaço, murmuro, os muros acolhem
O balancear do responsável pelos sofrimentos,que nunca dormem

Situações ridículas, o mundo gira sem o despertar da luz
Desentupidor de pia é o membro que limpam a não digestão de alimentos crus
Boas idéias, prestigiar o sol com grandes amigos
Só ele é assim lhe faz descer em círculos

Viciosos que no caminhar se mostram dolorosos
Assinatura na carteira de trabalho? Na certidão de óbito
Corpos não reconhecidos, presos, despedaçados
Como o meu coração em uma dose de ilusão e fracasso

Braços levantados, presos, na insensatez, inconsciência
Viram copos, viram carros. Riem alegres, choram na doença
Desrespeito com o templo, com a crença
No momento santo o pecado faz a presença

Ato burro, ato tolo, sujo como rato de esgoto
O cheiro é o mesmo, mas o rato não procura o veneno diferente do outro
Prestação da morte, caso de saúde pública
Responsável pela destruição através de torturas

Físicas, emocionais, psicológicas
Palavras ferem mais que tapas
Se irrigam com álcool as rosas
No despertar amanhecem mortas

São as histórias de vida que foram destruídas
Depositadas em calçadas, corredores de hospitais e clínicas
Coincidem com a minha. Felizmente sem agravantes
Pois o acaso tinha preparado algo pra mim muito tempo antes

Ao invés de ser arrastado por não conseguir andar
Ando a arrastar pessoas que como eu não conseguem enxergar
Que o vazio do coração não é preenchido por alegrias mundanas
Gargalhadas na madrugada de um chão frio que se faz cama

Mas a propaganda sempre usa o sucesso
Artistas, modelos jovens esbeltos
Podium certo, 1º colocação em júris internacionais
É o Brasil a terra dos melhores comerciais

Mas é claro quantos sorrisos damos, quanto compramos?
Daquilo pelo qual atravessamos o atlântico
Mas também né tio, com esse calor
Só uma gelada e uma mulata de maiô

Absurdo a imagem da mulher utilizada como objeto
Para atrair o profissional competente, hoje doente e sem sucesso
Absurdo a imagem dos jovens contentes e sempre alegres
Mas escondem o futuro adulto que acorda em suas próprias fezes.

Num país que desce redondo...
Segue arruinando sonhos...
Quantas? Quantos?

Que nesta noite adentrarão seus lares,
e ao invés de trazer alegria, fartura, bençãos,
trarão somente a tristeza, pranto, sofrimento

Quantas? Quantos?
Quantos que nesta noite serão encontrados ,
Aos pedaços dentro de seus carros
Devido ao acidente provocado pela embriagues?
Quantos esta noite provarão o alcool pela primeira vez?

Quantos? Quantas?
Eu? Eu não!
Eu não serei mais conivente com isso,
NUNCA MAIS!!!!

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ADOLESCÊNCIA EM RETRATOS

Adolescência em retratos, hei...
Markão natural da terra...

Oh pátria armada, estagnada, um berço hostil.
Inocente sensualidade, contraste infanto juvenil.
No Brasil sem censura, sem vergonha e sem caráter.
Em close, televisores ensinam posições em sessões a tarde.

Modernidade... A Infância com vestimentas adultas
Normalidade... Danças eróticas e crianças semi nuas
Como se não bastasse a triste gramática da vida
Jovens ligados às palavras crime, drogas e bebidas.

Fotografia construída da juventude que não se interessa
Afoitos por uma pobre conversa, mas não pra uma palestra.
Desértica mentalidade, repleta de futilidade.
Pensa que é uma fase da vida, mas transformam a vida em fase.

Terminal! Vivem na Terra do nunca. Nunca crescem
Nunca amadurecem ao mesmo tempo em que envelhecem
Hey garoto me responda o que é ser brega
14 anos estudando ou 14 anos em uma cela?

Hey garota me responda o que é ser brega
14 anos virgem ou 14 anos aidética?

Adolescência em retratos...

Vem ver, retratos desta adolescência.
O porquê do meu grito de urgência
Sabe? cercados de más influências.
Aonde vão chegar?


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O CHAFARIZ

25 de outubro de 89
Conquista de direitos e não doação de lotes
O sonho da casa própria, vencer o aluguel
Filas infinitas pra receber o papel

A escritura que garante um semblante feliz
Que o trouxe outra fila a mais, a do chafariz.
De lá reencontros, novos encontros.
Novas relações e partilha de sonhos

Porém o sonho veio caindo por terra
Graças a terra sem asfalto e o cascalho que empoera
As fossas mostram o fosso da política
Pessoas vistas como voto e não vidas

Na cidade sem saneamento há distribuição
Não de escolas, mas de sopas por Luiz Estevão.
E Roriz em helicóptero em época de comicío
Conheço desde muleke a política do pão e circo

(Mas minha cidade não é curral eleitoral de ninguém)

Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
(Daqui to vendo luzes acesas da Samambaia)


Eu...
Me lembro que banhei no chafariz pra matar o calor
Levava baldes d’água pra encher um tambor
Voltava pra casa no finalzinho da tarde
Para ir com mamãe no ônibus da SAB

Bem é verdade que em outra cidade concluí os estudos
Mas na classe intitulado de pés sujos
Mas hoje é orgulho o que um dia foi ofensa
Samambaia trouxe tudo, família, casa e consciência.

As primeiras lições, o professor que ensina
Primeira sala de aula, o Parque Três Meninas
Biblioteca, lazer e diversão.
Hoje entregue ao abandono e depredação

Quem de ti usou, hoje lhe, dá as costas
Em Brasília tem investimentos, mas na COPA
Temos parques de preservação, nascentes
Poluídos através de uma politica incompetente

Que vende alvará, de onde brotam imensos prédios
O povo não possui, mas engenheiro tem privilégios
Ao invés de colégios, campos de futebol
Arranha céus não permitem ver o nascer do sol

Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
(Daqui to vendo luzes acesas da Samambaia)


Eu só queria voltar um tempo atrás
E subir nas árvores que hoje não existem mais
E desenhar no chão o sol pra não vir chuva
Quando no campinho de terra avistava a nuvem escura

Samambaia e sua cultura tão rica
Artesanato, quadrilhas juninas, mamulengo, poesias
Bandas que encantam e cantam em palcos
Artistas reivindicam apenas espaços

Já atingimos a maioridade e temos tantos problemas
Milhares de habitantes sem teatros e cinemas
Cruzando Bocas da Mata, Primaveras
Negação de direitos ainda prosperam

Se temos vida e saúde é instantâneo, cultural
Ocupamos as ruas promovendo Saraus
Cantando um canto como o chafariz que jorrava
Por vida e amor a Samambaia.

Das ruas de terra, meu lar, minha casa
Duas décadas, a construção não para
A ti dedico poesia e palavras
(Daqui to vendo luzes acesas da Samambaia)

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A COLÔNIA

O saber me é negado
Desprezaram minha raiz
Nas argolas do submundo me amarraram
Fui esquecido pelo país

Restou-me ler nos livros
A história de um povo submisso
Cabisbaixo e preguiçoso
Uma colônia de conformismo

Li que o invasor é o herói
Que o natural da terra é selvagem
Esta nação não foi erguida por nós
Mas por coroas de coragem

Que entravam mata adentro
Bandeirantes, catequistas
Encontravam minérios e fruto
Mas estupravam as indígenas

Esta parte não foi contada
Pra muitos não existe
Pois a educação foi comprada
Por gravatas imundas da elite

Puseram um quadro negro
Depois trouxeram o giz
Na senzala vejo cadeiras
A cada sentar uma cicatriz

Mais que chibatadas e correntes
A desigualdade muito me fere
Ao saber que governadores e presidentes
Em educação nada investem

Pois o conhecimento não é de interesse
Melhorias no ambiente da escola
Predominaria nos gabinetes o medo
Pois o jovem saberia em quem vota.

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CUMPLICIDADE

Falaram-me de mentiras.
Eu de verdades.
Falaram-me de intrigas
Eu de amizade.

Falaram-me de tristezas
Eu de alegria
Falaram-me de solidão
Eu de sua companhia.

Falaram-me de lágrimas
Eu de sorrisos
Falaram-me de riquezas
Eu em espírito

Falaram-me do rancor
Eu do perdão
Viraram-me a face
Eu estendi a mão.

Falaram-me de pesadelos
Eu estou sonhando
Falaram-me “Eu odeio”
Respondi “Eu te amo.”.

Veja só... O amor chora
Feliz, pois agora o silêncio não é resposta.
O perfume da rosa e não a dor do espinho
Socialização do respirar, um pulsar, um caminho.

Veja só... O milagre que contemplo
A fonte da vida, energia que obtenho.
Quando olho para ti e o coração, enxergo.
É na despedida que eu te espero.




NÚMEROS

E transformaram o homem em número
De olho no relógio, pra vender mais em seu turno, calcula os segundos.
Se não atingir a cota, pra o empregador problema algum.
Amanhã afoga a mágoa em outro número, 51.

Mas à frente entrará na fila outra vez
Perdeu a conta de quantas entrevistas por 540 por mês
Na vida tudo é número, da impressão do currículo.
À passagem ao coletivo, na fila,100 indivíduos.

100 perspectivas, 100 dormir, 100 café.
A filha na 1ª fila da sala é o que quer
1º dia de aula, alegria? Mas ao invés
Não conseguiu comprar a mochila do Ben 10

Comercial que passou no 10 e em outros canais
Ben 10 em 10 vezes sem juros, com nome sujo, cartão não usa mais.
A propaganda e o desenho? Viram no SBT
Agora seguidos por outra sigla: SPC

E novamente o número o persegue
De um lado o endivida, e o outro, paga o salário da Hebe.
Falando em artista, jornalista, calculam as plásticas.
Feitas pela a artista que possui 40 comodos na casa

16 empregadas, nenhum filho, 1 cão.
4 receitas pra tratar a depressão
A idade chega e com Alzheimer esquece o próprio nome
Só permanece firme os 350 Ml de silicone
(E a humanidade são numeros: nojo,nojo,nojo)

Números! E transfomaram o homem em números
Despesas, lucros... Juros, juro
Números! E transfomaram o homem em números
Despesas, lucros... Juros, juro


Marcaram o homem e a mulher com código de barras
Por este produto quanto se paga?
São 30 reais por UMA hora de amor
Se o número 69 compor agenda, aumenta o valor.

Valor, valor louvor, Pastor lavou, dinheiro, dizimo.
Igreja com seguidores a conta bancária e não a Cristo
Falando em Banco, veja a fila dos aposentados.
Tramparam 65 anos, que não refletem no extrato.

Mas, claro! Trabalharam pra pagar ao parlamentar 30 mil
Pra não ver 170 ml que mataram 800 no Rio
Em 14 temos Copa, em 16 Olimpíadas.
Até lá, chuva e enchente matará quantas vidas?

Defesa civil não serviu, não se viu investimentos.
Mas pra subir o morro quantos caveirões, munições, armamentos?
1 parlamento que comete tanta desgraça
1 deputado na via de 50 a 120, atropela e mata.

O senhor que furtou a margarina passará 3 anos na cela
Arruda que pagou propina de 100 mil, tinha TV pra ver novela.
E no congresso temos palhaço, suplente que assume.
E 101 milhões de eleitores que são cúmplices.

Números! E transfomaram o homem em números
Despesas, lucros... Juros, juro
Números! E transfomaram o homem em números
Despesas, lucros... Juros, juro


E ae..
Somos apenas o número do RG, CPF, senha do banco.
A fatura atrasada, CEP, número telefônico.
Na certidão temos o número do livro, local, data, hora.
Mas no final da vida só resta o número da cova

Que a partir desta data
Não sejamos números, ambiciosos.

Senão de 4 em 4 anos
Sabe o que seremos? Apenas votos! Apenas votos!




COISAS QUE SEMPRE QUIZ DIZER

Papais e mamães prematuras continuam a calcular
Preço, custo, despesa, que uma vida lhes trará
Adolescência perdida, preconceito, sufoco
Jovem levada a uma clinica clandestina de aborto

É fácil imaginar o pulso acelerado o medo
Tentativa de fuga da haste, do esquartejo
É fácil imaginar um tubo sugando a massa cerebral
Vida corroída por substancia que contem sal

A criança que faria sorrir espera o lixeiro
Para ser incinerada e não pra ir pro berço
Foi o anjo que partiu, olhar não reluziu
Pois seria um dos 26 que morrem entre mil

Eu sempre quis dizer onde o preconceito nasce
A boneca não é preta, criança penteia uma Barbie
Homem, mulher. Branco, negro. Abismo nos salários
63% dos pobres, negros e pardos

Porcentagem atingida pelos residentes de Brasília
Aumento de salário, auxílio terno e moradia (entende?)
Sempre quis dizer sobre você que permanece calado
Diante dos camponeses assassinados e do trabalho escravo

No Pará, do tribunal internacional sou o júri popular
Condenando FHC culpado por Eldorado dos Carajás
A justiça esqueceu, eu sei que seu mandato acabou
Mas as famílias camponesas ainda colhem a dor.

Infelizmente motivos não faltam pra eu escrever
Coisas que sempre quis dizer.


É a igualdade social que preocupa a classe alta
Como se vê no não apoio a reforma agrária
Isto se é notado quando fazendeiro cria milícia armada
Pois tem medo de perder seus peões e suas enxadas

Ganância legitimada por robozinhos de gravata
Vide os ruralistas e sua bancada
Emendas, lobby, cofre, caixa dois
Terra indígena invadida pra plantação de arroz

Sempre quis dizer minha arma é minha cultura
O exemplo claro de que o filho orfão não foge a luta
Sou a favor da greve, do protesto, da queima de pneus
Mesmo que atrasem o caminhar dos meus e do seus

Pois sei que é fácil discordar quando se está com estômago cheio
Que é difícil se calar quando a desrespeito aos seu direitos
O futuro a Deus pertence. Não corra por seus objetivos
Frase burguesa capitalista que financia seu conformismo

Capitalismo, perigo, não injete em seus organismo
Beba Coca diariamente, em uma década estará com câncer maligno
Ursinhos constantemente entregue as namoradas
Na fauna brasileira não existem, não vejo pelúcias de araras

Você parou pra pensar no que falei na última rima
Notou que não fala eu te amo, mas i love you pra sua mina
500 anos de invasão, dominação exercida pelo FMI
Vamos resitir, pela vida da grande pátria Tupi.

Infelizmente motivos não faltam pra eu escrever
Coisas que sempre quis dizer.