19 dezembro 2014

Outra carreira

... Victória, filha de Esdras
Daquelas com sobrenome difícil
Desde o início, teve de tudo
Mas preferiu outra carreira...
Sumiu no mundo

Escola faltava, pro pai não ligava
Num camaro amarelo dançava
Convites, copos de uísque
Camarotes Vips e baladas

Vestido chique e caro,
Sexo sem segurança
Mas hoje tá aqui ó
Em cima de uma cama ...

Os olhos fechados que refletem o passado
Um rosto enrugado que apresenta a tristeza e cansaço
Doenças....
Várias dores no corpo
Um leito com cheiro de fezes, urina e mofo

Não lembra o passado formoso,
Sorrisos e flashes
Baladas e beck
Shopping e cash,
Cartões e cheques

Uma vida rica, desde a infância
Castelo da Barbie, viagens...
Disney, fim de semana

Glamour!
Roupas de marca, escola particular
Num piso de mármore,
Da Vinci e Galois
Mas o pai onde tá?
A mãe onde tá?
Criada por programas de TV e por babás

Ironia!
Babá cria a filha de um rico
E na periferia
Quem cuida de seus próprios filhos?
Talvez por isto, é talvez.
A patricinha mimadinha siga suas próprias leis

Aos dezesseis, gravidez, primeiro aborto
Mas não é apenas um feto que surge em seu corpo
Sente dor ao urinar
Sem um pai pra conversar
Sente vergonha de falar com a babá

Que lhe foi mãe de leite
Acalanto
troca fraldas
A mesma chamada de suja e negra-ladra

Quando trocou a joia de debutante
Por gramas de maconha na escola, com um boy traficante

Mas nada é como antes
No leito do hospital sente o fel
Queria o café da manhã com o pai
Mas lhe resta um coquetel

Com quase trinta, aparenta o dobro
Pele queimada, descabelada, na veia um soro

Que lhe alimenta
Já faz uns dias
Enquanto a enfrenta
A Síndrome a imune deficiência adquirida

Da Victória, filha rica?
Nem a aparência
A Victória enfrenta a derrota na crise de abstinência

Nessas horas, nem dinheiro compra solução.
Fecha os olhos e se arrepende...
Enquanto doente
Sente o último pulsar...
Do coração!

Da música 'Cadê Você' #Viela17
Por Markão Aborígine

Aborígine concorre ao Festival de Música Popular do Gama

DUAS CRIANÇAS nasceu como poesia, num ano em que eu militava no Conselho Tutelar e diferente do que se possa imaginar, não foi a dor de tais realidades que me inspirou a compor, mas sim, o sorriso de uma criança que tinha de "TUDO", mas o que queria era voltar aos braços de uma mãe, que ao olhar da sociedade de consumo não tinha ''NADA''.

É uma musica que me faz olhar para meus filhos, para meu comportamento como pai, que me remete inúmeras questões e creio que desperta o mesmo em você que está escutando ou irá escutar.

Acesse o link abaixo, curta a página e deixe seu voto. Enquanto #ABORÍGINE acredito na importância de representar não só a música periférica, mas as violações ao qual somos e estamos submetid@s e esta canção trata disto, da violação ao direito da infância.

Por isto peço seu apoio, votando neste primeiro momento, mas também refletindo sobre a música e socializando os sentimentos e sentidos que ela possa ter despertado.

CLIQUE E VOTE AQUI: http://www.fmpg.com.br/detalheParticipante.php?id_participante=143

Não nego minhas raízes

E hoje sou a Revolta dos Malês,
Sou Palmares
Sou Canudos
Sou Margarida Alves

Sou a jangada de Dragão do Mar
Sou Lampião, Elizabeth Teixeira
Sou a sanfona
A cantoria e o repente
Sou as Ligas Camponesas

Sou as dunas de Natal
A beleza em Tambaú
Sou as ruas de Pelourinho
Sou o velho Chico e o Pajeú
Sou Juazeiro e Petrolina
Sou o frevo em Olinda
Sou o tambor, Maracatú

Sou a Criança desaparecida
O pai, o carro e o filho
Sou a Saga de um vaqueiro
E Asa Branca rumo ao paraíso
Meu vaqueiro, meu peão
Sou força, fé e paixão
Sou Baraúna, sou NORDESTINO!

Aos 08 de outubro de 2014

Presidenta (e)


Algo me chamou bastante atenção no último período eleitoral.

Já ouvimos brados sobre ditadura gay... inúmeros. Mas também ouvi muitas declarações de voto ao candidato do PSDB citando o medo da Ditadura de Gênero do PT.

Por diversas vezes me concentrei nos vídeos para entender o que seria isto, mas não fui capaz, porém não nego a Ditadura de Gênero, ela é presente, violenta, intolerante e por incrível que pareça, está aí na sala de sua casa - leia-se cozinha - e não apenas num gabinete.

Antes de prosseguir confesso que adoro o termo presidenta. Ele é rebelde, visibiliza a mulher que sempre esteve presa num parênteses (a). Diz aí, quantas mulheres vimos nos livros de História? Quantos cabeçalhos assinamos com uma PROFESSORA em primeiro plano, sem a prisão do parênteses?

Eu? Quero mais Presidentas, Mais Médicas. Eu? Quero menos criminalização das belezas e dos prazeres, quero mais mulheres concluindo seus estudos, desafiando companheiros que as proíbem. Não quero mais que a cada 25 segundos uma mulher seja agredida, inclusive por 'presidenciável'.

A Ditadura de Gênero está no Feminicídio. A Ditadura de Gênero está na disparidade salarial. A Ditadura de Gênero está em cada piada machista, que colabora e legitima com todos exemplos citados no texto.

Quero também, meu povo com discernimento e partícipe da política e do poder, que deixe de apenas delega-lo. Quero também, meus irmãos e irmãs com olhar crítico e atento a história de opressões, que deixem, muitas vezes de ver a realidade através de lentes burguesas.

Aos 23 de outubro de 2014

10 junho 2014

O Canto dos Mártires em Samambaia



E esta utopia nos move e nos convida a cantar. E com este sentimento partilhamos a vocês quão bela e emocionante foi a primeira etapa do circuito O Canto dos Mártires, ocorrida aos 31 de maio em Samambaia-DF.

Neste vídeo, vocês escutaram trechos de 'O Canto da Liberdade' primeira faixa do disco.

No próximo dia 21 de junho Valparaíso será a próxima cidade a receber o evento que agrega-se ao Duele de MC's 'A Praça é nossa'.

COLEIRAS


E nós domesticamos animais
Logo esses animais ocuparam nossos lares.
Mas nossos lares foram ficando menores
Menores
Menores

Logo não haviam ruas, praças, árvores
Apenas prédios
E os animais domesticados
Tornaram-se animais domesticados sem teto

Os devolvemos as ruas
Agora não enfrentavam apenas pulgas
Mas mau tratos
Carne com veneno e vidro quebrado
Chuva, frio, morte.

E nós ficamos carentes, como pode?
Mas como somos inteligentes, logo criamos o Tamagoshi

E estávamos ali
Demos banho, comida, carinho
Aquecemos durante o frio
A mulher rica logo avisou: não quero mais filho!

Mas logo o Tamagoshi ficou ultrapassado
E fizemos com o animal virtual
O mesmo que fizemos ao animal domesticado

E mais uma vez ficamos carentes, como pode?
Mas como somos inteligentes, criamos o computador, iphone, ipode

É bem melhor! O celular não sente o mau hálito
Ao acordar logo conferimos se tá carregado
Antes mesmo do bom dia
Antes mesmo do abraço

Ainda sonolentos
Mesmos sem o velho e bom alongamento
Daqueles que num passado você se revirava na cama
O seu perfil social, aliás virtual
Lhe afasta de uma face humana

E um dia domesticamos animais
E um dia criamos tecnologias
E hoje em dia
Esta mesma tecnologia, nos domestica

É o beijo no filho trocado pelo computador
É o silêncio infernal de uma viagem no metrô
São as faces em tom azul
Os dedos que deslizam um a um
Num ambiente de isolação e desamor

E um dia tivemos relações sociais
Logo haviam visitas em nossos lares
Mas foram ficando menores
Menores
Menores

Logo não haviam frango frito no domingo
Pular fogueira na festa junina, ter madrinha e padrinho
Adedonha, paredão, pular elástico
Trocar o vale transporte por ficha
O garrafão ou o primeiro beijo sabor salada mista

Mas quem liga?
Melhor compartilhar com o mouse
Do que compartilhar a vida.

#MarkãoAborígine

31 maio 2014

Morbidez


A resposta a obesidade encontra-se em diversos espaços e situações. Vai desde a inexistência de dialogo familiar, perpassa a péssima merenda escolar brasileira regrada a gordura e fritura, ao abandono da educação física nas escolas públicas e também todo contexto social e cultural que nega ou tenta esconder os sabores de frutas e hortaliças.

Minha morbidez passou por cada caminho destes e só eu sei quão difícil é enfrenta-la. Não é falta de força de vontade. Esta sociedade esbelta/infeliz nos agride, nos isola, nos criminaliza.

Não conheço alguém que escolheu ser mórbido, mas ser preconceituoso vem a ser. Hoje ao tempo que brincava com meus filhos na praça ao lado de casa, exercitei-me nestas academias públicas.

Ao tempo que me desafiava deparei-me com os olhares, aqueles mesmos olhares de agressão e isolamento. Logo refleti sobre quão cruéis somos. Rimos de quem procura a cura ou alívio para uma doença. Quando fazemos isto, desviamos o foco da causa da obesidade.

E mais uma vez deparo-me com a intolerância e preconceito, como instrumento primordial para o sucesso do Capital e individualismo, nos afasta e nos divide.

O que hoje, serviu para passar o tempo enquanto meus filhos brincavam será mais comum, não para responder este padrão de beleza tão horroroso e inexistente, mas para olhar para mim e cumprir o que sempre desejei a amigos e amigas: Vida saudável e rebelde.

A rebeldia carrego a bastante tempo ...

MELHOR FORMA: http://aboriginerap.blogspot.com.br/2012/10/melhor-forma.html

O Canto dos Mártires - 1ª etapa


Amor e rebeldia.

Esta é a resposta a quem pergunta sobre o conteúdo do disco. Amor e memória a história de rebeldes brasileiros e brasileiras. Reflexão sobre o martírio cotidiano de crianças, adolescentes e jovens, mulheres, idosos, negros e negras, camponeses e camponesas.

É Rap combativo, legítimo. Música rebelde num tempo em que a cooptação e banalização se faz tão presente. Um disco simples, independente, mas totalmente dependente à utopia que nos move.

"Dizem que o Hip Hop morreu... Se isto realmente aconteceu, eis aqui um mártir". Me somo a tantos e tantas que ainda acreditam no poder revolucionário da música, me somo a vocês que acreditam num Hip Hop em movimento.

O circuito Canto dos Mártires ainda passará por Valparaíso, Estrutural e Ceilândia. Fiquem ligad@s!

RAPedagogia do Oprimido


"Ocupar é diferente de preencher espaço."

Trecho do livro 'Sem rosto, família ou nome'. Tenho um sonho antigo e mágico de ser professor, talvez porque um dia uma professora identificou uma certa potencialidade na escrita e foi aos poucos introduzindo a poesia em minha vida.

Desde então, cada letra que faço é um planejamento pedagógico de como poderei, um dia utiliza-la em sala da aula. Cada letra que faço é um olhar responsável aos idosos e idosas, aos mais jovens.

Nestes 15 anos de caminhada e militância no Movimento Hip Hop não tive a alegria - falha minha - de me formar, porém a primeira vez que pisei em uma Universidade foi para cantar, para levar a poesia de Samambaia, que na época tinha menos de uma dezena de estudantes na UNB.

E assim como este dia, ocupamos espaços de formas diferentes. E mais que sucesso ou cifras partilho conquistas:

Melhor forma - Utilizada na aula Sociologia do Corpo I UNB
Meio Século - Utilizada em História I Centro de Ensino Elefante Branco
Andares - Utilizada em Direitos Humanos I UFS
O Chafariz - Utilizada em escolas de Samambaia
A Colônia - Utilizada em escolas do Gama

#RAPedagogia do Oprimido

Por fim partilho atividade proposta pela 'Coordenação de Educação em Diversidade - CEDIV' da Secretaria de Educação do DF onde propõem, por meio de roteiro atividade/aula a partir de #OCirco

Um material riquíssimo que me fez olhar pra minha música de um jeito diferente e inspirou-me a incluir vários elementos já nas palestras que realizo por meio da campanha Diversidade Viva.

Aos amigos educadores, educadoras, professores e professoras minha profunda gratidão pela confiança e respeito!

CLIQUE AQUI http://aprender.se.df.gov.br/diversidade/blog/rapedagogia-do-oprimido



29 abril 2014

Colhendo frutos


Colhendo frutos.

Os últimos dias foram tão incríveis que mau tive tempo de partilhar com cada uma e cada um de vocês tais alegrias, momentos daqueles que fechamos os olhos e perguntamos se merecemos, daqueles que ficamos nos perguntando sobre o que está acontecendo.

Esta caminhada iniciou-se no último dia 18 de abril, quando tive a imensa alegria de lançar meu primeiro livro na II Bienal Brasil. Por dois dias representamos ali toda nossa história de luta por meio da Literatura Marginal. Ocupamos espaço, não só preenchemos.

Foram mais que livros vendidos, foi a certeza de vidas tocadas, rebeldias e interrogações despertadas. A presença de um livro com sua capa produzida com materiais recicláveis ou um papelão-lixo naquele espaço foi e ainda é insurgência. Do mesmo modo que é insurgência a presença dos bonés aba reta, das calças largas, tranças raiz e dreds que passaram por lá para consumir poesia.

Minha profunda gratidão a cada amiga e cada amigo que passaram por lá, deixaram seu sorriso, seu abraço e sua alegria, que é tão nossa. Minha profunda gratidão as companheiras do Ponto de Memória da Estrutural, que por meio da Editora Popular Abadia Catadora acreditaram e partilham deste sonho!

Passado alguns dias estava eu, Markão Aborígine ao lado do X Câmbio Negro em uma das salas da Universidade Católica de Brasília, convidados com título de professor, onde naquela noite partilhamos trechos de nossas histórias de vida. Vocês não têm noção quão importante e emocionante foi ouvir o X (eks). Aprendi muito ali, com suas vitórias, com seus desafios, me vi em vários momentos da fala.

Estava mais uma vez ali com a companheirada do Serviço Social, irmãs e irmãos que transpiram utopias, é olhar no olhar de cada uma e cada um para sentir isto. Acredito que eu pude sim, mesmo sem ter realizado o sonho de cursar o Ensino ''Superior'' - se é que há relação de superioridade nos diversos saberes - pude aprender e ensinar.

No dia 25 de abril eu estive mais uma vez na Assistência Social Casa Azul, um trabalho que existe em Samambaia desde de 1989, onde fazem um trabalho belíssimo por meio de um berçário e junto a crianças, adolescentes e jovens. Faz um tempo que ministro palestras e ou oficinas, mas desde o primeiro momento eu vi que aquele dia seria especial, não sei o porque.

Olhares atentos, sorrisos, expressões de preocupação, aplausos, dúvidas. Foi este o ambiente do diálogo que fizemos sobre a violação de nossos direitos, sobre como cotidianamente somos exterminados, sobre a ação do estado e sistema para nos manter estagnados. Refletimos ali sobre tais armadilhas, e como é importante estarmos atentas e atentos, acreditar em si, respeitar e ouvir a família, aproveitar ao máximo a experiencia de professoras e professoras.

Após alguns apertos de mãos, fotos... (respirando fundo) passo a conversar com uma moça linda, linda em seus sonhos e em suas lágrimas. Não irei partilhar os motivos, mas naquele momento eu tive a certeza de quão responsáveis nós devemos ser, nós que utilizamos o poder da palavras, enquanto RAP, nós trabalhamos com sonhos, com sentimentos, devemos ser responsáveis e cúmplices com quem escuta.

Não sei se há alguém lendo até aqui, peço até compreensão por alongar-me tanto, mas não posso omitir tais sentimentos, não posso deixar de partilhar isto, jamais.

Eu sei que não participarei da colheita, mas morrerei sendo semente! É esta utopia que me move. A cada dia, a cada show reitero esta certeza, mas olhando para esta semana tive a certeza que bons frutos eu colhi.

E isto se materializou no último Sarau Samambaia Poética, que comemorava ali os 06 anos de vida e militância do Coletivo ArtSam. Não sabia, mas minhas irmãs e meus irmãos de luta haviam preparado uma homenagem a mim.

Estava eu acostumado a homenagear nosso povo, seja no Prêmio Hip Hop Zumbi, seja nos próprios Saraus, mas agora era eu recebendo um troféu, que pra eu simboliza toda amizade e amor que tenho com cada militante do Coletivo. E fico ali no meio de todos e todas, nervoso, sem saber o que falar, com geral olhando pra mim. Do mesmo jeito que fiquei em 1997, quando a fita K7 que tinha minha base travou e fiquei em cima do palco sem saber o que falar, sem saber o que fazer.

Foi uma semana mágica, foi um mês mágico. Só tenho a agradecer a cada uma e cada um que fez parte disto, dando-lhes a certeza que o #Aborígine está mais fortalecido. Que as luvas não mais estarão no ringue, mas em meus punhos. Em meados de 2013 eu pensei em desistir, mas vocês são motivos e inspirações para eu continuar.

Muito obrigado Coletivo ArtSam e Famíla Hip Hop pela homenagem e respeito, muito obrigado!

Obrigado a minha esposa Rose Elaine Silva por acreditar em mim, por ajudar-me, por aceitar-me. Uma das maiores, senão a maior alegria que eu tenho no Rap é dividir uma letra contigo, que dia 31 de maio está nas ruas através de meu segundo CD 'O Canto dos Mártires'.

Todo amor a meus filhos Marcus Jr. e Carlos Henrique, reais motivos para viver!

Se alguém chegou até aqui, que também seja semente, sendo o melhor para sua família, o melhor para sua cidade, o melhor para seus pais.

#MarkãoAborígine

15 abril 2014

Racismo em caixa alta


AUSTRALIANA em caixa alta.

É assim que toda mídia brasileira vem divulgando o crime de racismo que ocorreu em um salão de beleza em Brasília.

Pelo fato da jovem racista ser estrangeira deu-se tamanha repercussão, isto já sabemos, porém os nossos racismos, o nosso genocídio e a própria ação da mídia, suas novelas e seus programas de comédia que criminalizam e "estereoti-pisam" nossa negritude não é provocada ou refletida.

O fato de termos Jair Bolsonaro, o general da extrema direita brasileira, apoiador da ditadura e racista convicto como forte candidato a Comissão de Direitos Humanos da Camara dos Deputados é apenas uma notícia em letras minúsculas. Tinga é xingado e ofendido em outro país, isto comove, mas Richarlysson é tão agredido quanto aqui em nossa terra e isto não incomoda.

A reflexão é que nós, juventude pobre, periférica, Hip Hop, trabalhadores e trabalhadoras devemos nos encorajar e desafiar isto sempre, assim como as clientes e funcionárias do salão de beleza; Afinal não são apenas brancos ingleses exterminando aborígines na Austrália, são policiais, são ruralistas, são fascistas, são burgueses alimentando diariamente a cultura do ódio e exterminando diariamente nosso povo.

Lá na Austrália, um governo retirou mais de 100 mil crianças dos pais aborígines e os colocou em abrigos ou CAJE/Febem se preferirem. Aqui no Brasil tivemos a Lei do Ventre Livre, onde todas as crianças que nasciam eram ''livres'', tão logo arrancadas dos braços de mães e pais, e levadas para Abrigos ou CAJE/Febem se preferirem, de cada 100, apenas 10 sobreviviam.

Vêm? Infelizmente o ODIO e RACISMO estão em caixa alta em qualquer lugar do mundo, não seria diferente aqui.

Publicado originalmente em 17 de fevereiro (Aqui)

08 fevereiro 2014

P ai A migo, P resença A morosa


Numa destas idas a comercio deparo-me com uma conversa entre o cliente e uma vendedora, onde o homem relata que está muito cansado do trabalho, que trabalha demais para pagar a Pensão Alimentícia dos filhos. Até aí tudo bem.

Porém insistia em falar que trabalhava demais, trabalhava demais... Por medo, pois sabe que se não pagar a ''polícia viria atrás''. O fato de colaborar com a educação dos filhos, com a alimentação dos filhos, com a saúde dos filhos não foi sequer tocada.

Intervi educadamente na conversa citando estas questões, que P.A é o mínimo do mínimo, que devemos sim, ser e está presentes com nossos filhos e filhas. O irmão silenciou-se e refletiu com um ''é verdade campeão, é verdade''.

Compartilho esta situação com vocês (nós homens) para refletirmos alguns instantes em quão monstros somos, pois tal abandono, aliás preocupação financeira à frente do bem estar de crianças é sim monstruosidade. Saiba - e lute - que precisamos ressignificar esta sigla!

P.A é pai amigo, é presença amorosa, é palavra que alivia, é professor-aula, português, álgebra, é paz, é alma! Pois você pai também sabe, que o maior alimento não está atrás de quaisquer quantias, mas sim no calor e afeto da companhia.

Sim, que nós homens possamos evoluir e que P.A nunca mais signifique Pai Ausente ou Pensão Alimentícia, mas paz... mais paz, mais pais e alegria.

20 janeiro 2014

O Roteiro


A ficção é contada a partir da história de 3 personagens principais: Uma modelo e seu namorado, formado em medicina, e um jovem viciado em álcool, fiel frequentador de baladas universitárias.

A jovem modelo Karina é protagonista de comerciais de cerveja e segue o estereotipo machista: “Mulata”, loura e biquíni. Durante o vídeo são constantes as cenas com a mesma acompanhada por outras modelos.

Corta-se a imagem onde o médico, que também é seu namorado, lhe questiona mostrando imagens de acidentes e de como seus pacientes ficaram. Num misto de preocupação e fúria ele mostra à Karina fotos de paraplégicos e conta estórias de seus pacientes. Após a discussão ambos se abraçam.

Despedem-se e a mesma segue para seu carro. Nisto o jovem que aparecia em relances se embriagando, dirige-se tremulo ao seu automóvel. Dar-se destaque a dificuldade do mesmo por a chave na ignição.

O início da última cena se dá quanto há o encontro dos três personagens. O Jovem após ver comercial protagonizado pela modelo sai do bar e vai dirigir. Não liga para o amigos lhe aconselhando a chamar um táxi. Nesse momento há um close nas mãos tremulando a chave enquanto fala: “Eu sou é homem porra, piloto de fuga”.

Ao virar a esquina não para no sinal vermelho e atropela uma mulher que estava entrando em seu carro. Arrastou a mesma por uns 10 metros, enquanto a chave fica balançando na porta ainda fechada.

Mesmo bêbado assusta-se ao olhar a mulher desmaiada e pensa está alucinado, pois a mulher que acabara de atropelar é a mesma que viu minutos antes numa propaganda de TV lhe oferecendo cerveja.

Ambos são levados ao hospital. Filho de empreiteiro e dirigindo um carro importado sequer fora algemado, mas o estado de embriaguez era tamanho que também fora levado ao Hospital.

Pela terceira vez a modelo e um jovem burguês estão próximos. Hospitalizados em um Clínica Particular onde o namorado de Karina trabalha.

Neste instante o dá-se destaque o Médico olhando a Radiografia, onde constatou que o jovem que a poucos momentos estava sorrindo e bebendo com amigos estava com hemorragia interna. Num corte rápido mostra-se a imagem do jovem capotando e depois sendo enterrado, de Karina e seu namorando chorando, enquanto ele lhe consola.

A cena final apresenta Karina novamente em propagandas da TV... Mas desta vez a modelo em uma campanha contra o consumo de álcool, dando destaque não mais ao seu corpo e sim a cadeira de rodas. Será mesmo ficção?

Do livro 'Sem rosto, família ou nome'

14 janeiro 2014

Jéssica


Jéssica
Teve tudo que quis, nem tudo precisava
Convite pra balada, aceitava.
Uma latinha balançava
No cartão de crédito uma carreira cheirava
Mas não a carreira que o pai lhe desejava

Seu José foi mãe e pai
criou sozinho
Vaga em escola, fila do posto de saúde enfrentando o frio
Em lan house fez currículo
3x4 tirou
Distribuiu com fé em cada
Agencia do trabalhador

Enquanto isso Jéssica se revolta
Pelo celular presenteado que não era da moda
Quando vai à escola logo o desliga
Faltava aula e lá está Seu José preocupado com a filha

E faz três dias, que não volta pra casa
Na mochila, panfletos e mais panfletos de baladas
Cama revirada
Celular inúmeras chamadas
O pai atende ao som de Ela tá virada

“Ai loirinha, a chola ta pronta
Tem escama, uns lança, maconha
Muito som do bom, funk e muito Rap
Lhe enviei o endereço por SMS”

Seu José não acredita no que ler
Entre a caixa de entrada há vários não lidos:
Cadê você?
Mensagem que ele envia desde sexta
Foi à cômoda e pegou uma caneta

Escreveu o endereço
E foi atrás do amor de sua vida
E grita:
Jéssica minha filha

Responde por favor, precisa de ajuda
Papai te ama, por favor me desculpa

Faltou trabalho, foi demitido
Dormiu na rua, sentindo frio
Preocupações e calafrio
Atrás do amor que o mesmo amor lhe omitiu

Jessica
Pela primeira vez chegou em casa
Não tinha café da manhã ou mesa feita
E lá está a mesma preocupada
Pensando no local onde o pai esteja

Pegou o celular leu cada mensagem
Envergonhou-se do pai, de cada bobagem
Tomou coragem e fez à ligação:
Pai cadê você?
Ele atende e diz: Estou em qualquer lugar, menos no seu coração.

#MarkãoAborígine


Um bom dia se faz lutando!



Sim, um feliz ano novo!

Mas tenha certeza que tal felicidade parte de teus esforços. Comum não? Mas não é este esforço convencional do melhor para si não. É o esforço para sermos cada vez melhores para nossos filhos e filhas, melhores para nossa família, melhor para nossa cidade.

Ou seja, é bom reaprender a sorrir, olhar para a vizinha e desejar um bom dia. É bom reaprender a falar, pois saiba que as teclas não beijam, seja presente!

Pensa assim: esse ano foi apenas um ensaio, independente do que houve, foi apenas um ensaio, agora sim vou subir no palco para brilhar, mas num teatro onde todos e todas também são protagonistas!

Enquanto minha felicidade for só minha, não será felicidade!

Então que venha esse tal ano novo e que eu posso partilhar prosperidade, que eu posso ter uma vida saudável, que me alimente cada vez mais de utopias e rebeldia, que venha a vitória!

É sim um texto cheio de exclamações, pois para felicidade não importa se há ou não concordância, pois a vida não é tão certinha assim não, afinal ainda não somos máquinas como o Opressor quer, e se depender de mim, vou desligar monitores e sair pra rua, olhar os fogos, beijar como nunca minha mulher e meus filhos, brindar com amigos.

E que seja assim, que caminhemos com a certeza que um bom dia se faz lutando, sorrindo e cantando, que se deixarmos de fazer isto num dia sequer continuaremos apenas ensaiando uma felicidade, apenas esperando um ano novo e nunca o construindo.

Então, vambora, mãos a obra!

Abraço fraterno, #MarkãoAborígine