19 dezembro 2014

Outra carreira

... Victória, filha de Esdras
Daquelas com sobrenome difícil
Desde o início, teve de tudo
Mas preferiu outra carreira...
Sumiu no mundo

Escola faltava, pro pai não ligava
Num camaro amarelo dançava
Convites, copos de uísque
Camarotes Vips e baladas

Vestido chique e caro,
Sexo sem segurança
Mas hoje tá aqui ó
Em cima de uma cama ...

Os olhos fechados que refletem o passado
Um rosto enrugado que apresenta a tristeza e cansaço
Doenças....
Várias dores no corpo
Um leito com cheiro de fezes, urina e mofo

Não lembra o passado formoso,
Sorrisos e flashes
Baladas e beck
Shopping e cash,
Cartões e cheques

Uma vida rica, desde a infância
Castelo da Barbie, viagens...
Disney, fim de semana

Glamour!
Roupas de marca, escola particular
Num piso de mármore,
Da Vinci e Galois
Mas o pai onde tá?
A mãe onde tá?
Criada por programas de TV e por babás

Ironia!
Babá cria a filha de um rico
E na periferia
Quem cuida de seus próprios filhos?
Talvez por isto, é talvez.
A patricinha mimadinha siga suas próprias leis

Aos dezesseis, gravidez, primeiro aborto
Mas não é apenas um feto que surge em seu corpo
Sente dor ao urinar
Sem um pai pra conversar
Sente vergonha de falar com a babá

Que lhe foi mãe de leite
Acalanto
troca fraldas
A mesma chamada de suja e negra-ladra

Quando trocou a joia de debutante
Por gramas de maconha na escola, com um boy traficante

Mas nada é como antes
No leito do hospital sente o fel
Queria o café da manhã com o pai
Mas lhe resta um coquetel

Com quase trinta, aparenta o dobro
Pele queimada, descabelada, na veia um soro

Que lhe alimenta
Já faz uns dias
Enquanto a enfrenta
A Síndrome a imune deficiência adquirida

Da Victória, filha rica?
Nem a aparência
A Victória enfrenta a derrota na crise de abstinência

Nessas horas, nem dinheiro compra solução.
Fecha os olhos e se arrepende...
Enquanto doente
Sente o último pulsar...
Do coração!

Da música 'Cadê Você' #Viela17
Por Markão Aborígine

Aborígine concorre ao Festival de Música Popular do Gama

DUAS CRIANÇAS nasceu como poesia, num ano em que eu militava no Conselho Tutelar e diferente do que se possa imaginar, não foi a dor de tais realidades que me inspirou a compor, mas sim, o sorriso de uma criança que tinha de "TUDO", mas o que queria era voltar aos braços de uma mãe, que ao olhar da sociedade de consumo não tinha ''NADA''.

É uma musica que me faz olhar para meus filhos, para meu comportamento como pai, que me remete inúmeras questões e creio que desperta o mesmo em você que está escutando ou irá escutar.

Acesse o link abaixo, curta a página e deixe seu voto. Enquanto #ABORÍGINE acredito na importância de representar não só a música periférica, mas as violações ao qual somos e estamos submetid@s e esta canção trata disto, da violação ao direito da infância.

Por isto peço seu apoio, votando neste primeiro momento, mas também refletindo sobre a música e socializando os sentimentos e sentidos que ela possa ter despertado.

CLIQUE E VOTE AQUI: http://www.fmpg.com.br/detalheParticipante.php?id_participante=143

Não nego minhas raízes

E hoje sou a Revolta dos Malês,
Sou Palmares
Sou Canudos
Sou Margarida Alves

Sou a jangada de Dragão do Mar
Sou Lampião, Elizabeth Teixeira
Sou a sanfona
A cantoria e o repente
Sou as Ligas Camponesas

Sou as dunas de Natal
A beleza em Tambaú
Sou as ruas de Pelourinho
Sou o velho Chico e o Pajeú
Sou Juazeiro e Petrolina
Sou o frevo em Olinda
Sou o tambor, Maracatú

Sou a Criança desaparecida
O pai, o carro e o filho
Sou a Saga de um vaqueiro
E Asa Branca rumo ao paraíso
Meu vaqueiro, meu peão
Sou força, fé e paixão
Sou Baraúna, sou NORDESTINO!

Aos 08 de outubro de 2014

Presidenta (e)


Algo me chamou bastante atenção no último período eleitoral.

Já ouvimos brados sobre ditadura gay... inúmeros. Mas também ouvi muitas declarações de voto ao candidato do PSDB citando o medo da Ditadura de Gênero do PT.

Por diversas vezes me concentrei nos vídeos para entender o que seria isto, mas não fui capaz, porém não nego a Ditadura de Gênero, ela é presente, violenta, intolerante e por incrível que pareça, está aí na sala de sua casa - leia-se cozinha - e não apenas num gabinete.

Antes de prosseguir confesso que adoro o termo presidenta. Ele é rebelde, visibiliza a mulher que sempre esteve presa num parênteses (a). Diz aí, quantas mulheres vimos nos livros de História? Quantos cabeçalhos assinamos com uma PROFESSORA em primeiro plano, sem a prisão do parênteses?

Eu? Quero mais Presidentas, Mais Médicas. Eu? Quero menos criminalização das belezas e dos prazeres, quero mais mulheres concluindo seus estudos, desafiando companheiros que as proíbem. Não quero mais que a cada 25 segundos uma mulher seja agredida, inclusive por 'presidenciável'.

A Ditadura de Gênero está no Feminicídio. A Ditadura de Gênero está na disparidade salarial. A Ditadura de Gênero está em cada piada machista, que colabora e legitima com todos exemplos citados no texto.

Quero também, meu povo com discernimento e partícipe da política e do poder, que deixe de apenas delega-lo. Quero também, meus irmãos e irmãs com olhar crítico e atento a história de opressões, que deixem, muitas vezes de ver a realidade através de lentes burguesas.

Aos 23 de outubro de 2014