20 novembro 2018

Novo clipe do Aborígine remete ao Massacre de Barbacena


Ambientado num manicômio, extrapolando o conceito artístico, o novo clipe de Aborígine versa sobre visibilidade e tranformação. Lançado, numa escolha política, em 20 de novembro, dia Consciência Negra, remete ao Massacre de Barbacena, conhecido como holocausto brasileiro, onde aproximadamente 60 mil pessoas foram assassinadas, a maioria negras e negros; incluindo, no mínimo, 33 crianças.

A luta antimanicomial é presente e pauta importante. Representa a aceitação do diferente, do diverso. À época de Barbacena, pessoas eram jogadas no hospício por serem alcoolistas, homossexuais, moças "desvirginadas", meninas grávidas pelos patrões ou apenas divergiam do regime militar instaurado.

O Massacre de Barbacena deve ser conhecido e aprofundado no ensino básico, a história afrobrasileira, tão excluída, pode enriquecer nossos currículos e fazer a educação tomar partido pela vida e humanidade.



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▶ FICHA TÉCNICA :

Produção executiva: M.A.B.O Prod.
Produção audiovisual: AVOE / @avoetv
Produção musical: LP Estúdio, Nexx e Thiago Raiz
Gravado por: LP Estúdio
Montagem e Scratchs: DJ Léo Gueddez
Assistente de produção: Saulo Trindade
Gravado no Complexo Cultural Samambaia

▶ ATORES:

Carrasco 1: Nexx
Carrasco 2: Saulo Trindade
Enfermeira: Jandy Souza
Paciente 1: Xande
Paciente 2: NowBru
Paciente 3: Kalango QI
Paciente 4: Tarcísio Pinheiro
Paciente 5: DJ Liso
Paciente 6: Deivide Hunter
Tatuador: Glauber Santana



19 novembro 2018

Na fortaleza de Dragão do Mar


Na Fortaleza de Dragão do Mar. Vou velejando pra meu povo libertar”- Aborígine

Nessa Semana da Consciência Negra iremos publicar, para além das músicas e poesias, a história de personagens e rebeldes brasileiros e brasileiras, homens e mulheres negras que lutaram por liberdade e justiça. Iniciamos com Dragão do Mar, nordestino, homem do mar.

Em minha atuação como Educador Social em escolas ou unidades de internação do DF sempre provoco os educandos e educandas a refletirem para além do dado, para além de sua própria realidade. É fato que muitas vezes, sobretudo na internação, os jovens sequer conhecem outros estados, nunca foram a uma praia.

Por si só é um dado que merece análise e estudo, pois a rotina social, que aqui analiso como processo de exclusão nos priva de conhecer a diversidade, interioriza-las e fortalecer as relações, bem como criar outras perspectivas de futuro e realidade.

Pois foi numa viagem que tive acesso pela primeira vez a vida e luta de Dragão do Mar. Foi em Fortaleza/CE, após uma longa caminhada pra fotografar um navio/barco naufragado que cheguei ao Espaço Dragão do Mar, uma espécie de museu/teatro/cinema e pela primeira vez ouvi aquele nome. O que me entristece, para além de 2 décadas de vida escolar não ter conhecido é saber que, numa pesquisa on line, encontra-se mais informações sobre o Espaço Cultural que sobre sua vida/luta.

Chico da Matilde, apelido de Francisco José do Nascimento, nasceu em 1839, num dos estados percussores no movimento abolicionista no Brasil. E não é erro pensar que este fato distancia-se do estado com melhor avaliação educacional.

Letrado aos 20 anos de idade, órgão de pai, que morreu em meio aos trabalhos nas águas, criado por uma mãe que enfrentava todas as dificuldades e contexto da época, Chico da Matilde viu-se como homem do mar, jangadeiro, trabalhando desde criança. Foi marinheiro e trabalhou nas obras do Porto de Fortaleza.

No mar, viu todo o sofrimento gerado pelo tráfico negreiro e logo envolve-se com o Movimento Abolicionista. Uma de suas principais lutas, foi fechar o Porto de Fortaleza, impedindo o embarque de escravizados e escravizadas para outras regiões. Como o Ceará, foi o primeiro estado a abolir a escravatura em maio de 1883, o agora Dragão do Mar, conduzia sua jangada pra abordar embarcações que faziam o tráfico negreiro.

Chico da Matilde desafiava o racismo, o conservadorismo, defendia maior participação da mulher na sociedade cearense. Colaborou com greves, foi presente na luta, perdeu emprego e viveu o restante da vida como pescador.

Que nas trincheiras sejamos Dragão do Mar, mesmo em nossos postos de trabalho, onde somos explorados e exploradas, devemos nos unir e lutar por liberdade, mesmo em nosso lar, onde reproduzimos opressões, sejamos atentos a opressão do machismo e lutemos por liberdade!

Dragão do Mar, presente!

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Assista ao documentário clicando AQUI

18 novembro 2018

O Rap em a Revolução dos Bichos


Peter Singer foi um filósofo que recorreu ao conceito de especismo para discorrer sobre a ideia de superioridade do ser humano em relação às demais espécies.

Assim como o machismo sobrepõe um gênero a outro e o racismo sobrepõe uma raça à outra, o especismo coloca uma espécie em patamar de superioridade às demais, como uma maneira de justificar algumas atrocidades que praticamos.

Seguindo essa ideia de superioridade humana, comparamos algumas minorias aos demais animais: nos referimos aos pret@s enquanto "macac@s"; nos referimos às mulheres enquanto "piranhas"; chamamos @s obes@s de "baleias" e os gays, nessa tentativa diminutiva, são os "veados".

Sabe quando você vai chutar um cachorro e ele crava os dentes na sua perna?! Então, essa música é isso!

Por JC Amaro, rapper e filósofo de Samambaia.






12 novembro 2018

Atemporal: o álbum do fim




Atemporal: o álbum do fim

Lançado no dia mundial do Hip Hop, 12 de novembro, o MC e poeta Aborígine justifica a escolha refletindo sobre o caráter revolucionário dessa cultura negra e urbana, oriunda do povo pobre: "O Hip Hop me molda e transforma diariamente, para além da essência artística e ritmo a minha poesia, eu devo ao Hip Hop minha vida".

O CD possui treze faixas que respondem o porque do álbum do fim. A capa e contracapa apresentam um ambiente apocalíptico, num contraste de quem apresenta-se à luta e um olhar esperançoso de uma criança. São poesias, versões acústicas e a acidez num discurso forte e contemporâneo. Esse último adjetivo reflete a atemporalidade da obra, uma vez que, diversas letras apresentadas possuem 10 ou mais anos de composição.

Num contra fluxo que revela evolução do rapper, as faixas problematizam e enfrentam a mercantilização da cultura, trazem conceitos, até então, pouco ou não discutidos no Rap como gentrificação, gordofobia e democratização dos meios de comunicação. Músicas conhecidas e cantadas como Teresas e Um canto a Margarida, que possuem respectivamente vídeo clipe e lyric vídeo completam o trabalho, assim como a releitura da música O azul de uma caneta, música de 2001, lançada em versão acústica disponibilizada exclusivamente no Lyric álbum no canal do artista.

O álbum do fim pode ser uma despedida do rapper, porém, suas linhas, em quem escutar trará um desconforto e uma vontade pra luta tão grandes, que será difícil não lembrar do Aborígine.

#assessoria


FICHA TÉCNICA

Gravado por DJ Raffa, Gibe, LP Studio e Wty.
Produção musical de Gibe, LP Studio e Thiago Raiz.
Participações de Josi Araújo, Leandro Solano, Marcos MC e Nexx.
Produção executiva: M.A.B.O Prod.
Produção audiovisual: Avoe Produções
Designer gráfico: Resistance Design
Concepção de arte: Martinelli / Página Rap Brasília


MÚSICAS

1. Jéssica

Poesia marginal que aborda as relações conflituosas entre uma adolescente e seu pai, inspirada em diversas histórias reais. Inicialmente foi composta para a música 'Cadê você?' do grupo Viela 17, mas com a gravação sonoplastia de Wty inicia o álbum do fim.

2. Números

Os versos são repletos de referências a números, reflete estatísticas, questiona a função social do encarceramento da juventude, a sociedade do consumo e a representação política no Brasil. Com dados atuais e questionamentos a ordem, sob produção musical de LP Brasil, Nexx e Thiago Raiz a faixa demonstra todo o peso deste álbum.

3. Destinatário

Uma carta. É assim que podemos descrever tal canção. Destinada a si e ao ouvinte, o rapper canta e semeia possibilidades e vida ao povo pobre da periferia. Daquelas canções pra ouvir nos momentos de dificuldade, daquelas músicas feitas pra elevar a esperança e auto estima.

4. Hip Hop em mim

Título homônimo ao livro do Rapper lançado em 2017, trata-se de um Gfunk em homenagem aos e as pioneiras do Hip Hop no DF. É um hino à cultura da capital do país. Versa acerca de experiência do artista, como no episódio que furtou um CD de bases do DJ Raffa numa loja Carrefour, bem como no episódio em que gravou um programa de Rap em cima de uma fita cassete de Axé Bahia da irmã. Uma daquelas músicas que já nasce como um clássico.

5. Azul e branco

História que versa sobre as primeiras sensações de uma adolescente ao sair de uma unidade de internação. Um história emocionante de redenção e superação. Composta durante oficina ministrada pelo artista na Unire - Unidade de Internação do Recanto das Emas, a música fora produzida por LP Estúdio e Frates Beat's e conta com participação de Leandro Solano.

6. O circo 2

A crueldade do ser humano o levou a encarcerar pessoas negras, diversas e doentes em circos e zoológicos humanos. Correlacionando essa história a fatos atuais como machismo, gordofobia e lgbtfobia o rapper nos provoca, fazendo olhar pra si e encarar os próprios preconceitos. A faixa trata-se de uma releitura da música lançada em 2012, premiada na terceira colocação do Prêmio Sesc Tom Jobim de Música. Antes de ouvi-la, recomendamos conhecer os documentários/entrevistas lançadas pelo artista. Mãe, Mulher e Negra / Pessoas Pequenas são audições necessárias e urgentes.

7. Verdes lucros

Direito a cidade, gentrificação e agronegócio são temas desta canção que convoca a união do campo e a cidade. Produzida por Gibesom e gravada por DJ Raffa é uma das músicas que apresenta a evolução do rapper na escrita, lírica e canto.

8. Duas crianças

Brasília possui o maior IDH do país, mas também é a região mais desigual.

Imagine refletir essa situação ao som da história de duas crianças. João, trabalha em semáforos vendendo balas e conhece Davi jogando video game dentro de um carro importado. Há semelhança? Talvez.

9. Punho Cerrado 1

Audio da cypher Punho Cerrado que contém participação de Mente Consciente, 3Janelas, Negro Thalles, Ideologia e Tal, Beto - Sobreviventes de Rua, Negra Eve - Mantendo a Identidade e Câmbio Negro. Um projeto único que agrega diferentes gerações do Hip Hop do Distrito Federal, que pretende romper as barreiras entre as mesmas, homenagear os percussores e circular as cidades. Assista ao clipe: https://bit.ly/2DI97Si

10. Teresas

Escrita em parceria com a poeta Rose Elaine, a música é uma história de superação da mulher periférica, que volta a estudar e trabalhar após sair de uma relação violenta. Produzida por Gibesom e com participação de Josi Araújo, em 2015 ganhou um CLIPE produzido por Donas Filmes e protagonizado pela atriz e poeta Meimei Bastos.

11. Um canto a Margarida

Com participação de Josi Araújo a música conta a história da agricultora paraibana Margarida Alves e sua luta em defesa dos direitos do povo camponês. Um Rap com sanfona e refrão marcante que ganhou um Lyric Vídeo tão emocionante quanto a música.


12.
Lobotomia

Talvez a letra mais antiga do disco, conta com participação de Marcos Mc e questiona a padronização e mercantilização do Hip Hop. Possui sampler de Evaldo Braga, já utilizado na música 'As primeiras letras do alfabeto'. É como se o artista provocasse um novo letramento ou questionasse o analfabetismo político da uma nova geração.


13.
Ponto final

Uma das faixas mais doloridas do disco. Nem todos e todas sejam capazes de ouvir coisas assim, ainda mais incluírem num álbum.