12 novembro 2018

Atemporal: o álbum do fim




Atemporal: o álbum do fim

Lançado no dia mundial do Hip Hop, 12 de novembro, o MC e poeta Aborígine justifica a escolha refletindo sobre o caráter revolucionário dessa cultura negra e urbana, oriunda do povo pobre: "O Hip Hop me molda e transforma diariamente, para além da essência artística e ritmo a minha poesia, eu devo ao Hip Hop minha vida".

O CD possui treze faixas que respondem o porque do álbum do fim. A capa e contracapa apresentam um ambiente apocalíptico, num contraste de quem apresenta-se à luta e um olhar esperançoso de uma criança. São poesias, versões acústicas e a acidez num discurso forte e contemporâneo. Esse último adjetivo reflete a atemporalidade da obra, uma vez que, diversas letras apresentadas possuem 10 ou mais anos de composição.

Num contra fluxo que revela evolução do rapper, as faixas problematizam e enfrentam a mercantilização da cultura, trazem conceitos, até então, pouco ou não discutidos no Rap como gentrificação, gordofobia e democratização dos meios de comunicação. Músicas conhecidas e cantadas como Teresas e Um canto a Margarida, que possuem respectivamente vídeo clipe e lyric vídeo completam o trabalho, assim como a releitura da música O azul de uma caneta, música de 2001, lançada em versão acústica disponibilizada exclusivamente no Lyric álbum no canal do artista.

O álbum do fim pode ser uma despedida do rapper, porém, suas linhas, em quem escutar trará um desconforto e uma vontade pra luta tão grandes, que será difícil não lembrar do Aborígine.

#assessoria


FICHA TÉCNICA

Gravado por DJ Raffa, Gibe, LP Studio e Wty.
Produção musical de Gibe, LP Studio e Thiago Raiz.
Participações de Josi Araújo, Leandro Solano, Marcos MC e Nexx.
Produção executiva: M.A.B.O Prod.
Produção audiovisual: Avoe Produções
Designer gráfico: Resistance Design
Concepção de arte: Martinelli / Página Rap Brasília


MÚSICAS

1. Jéssica

Poesia marginal que aborda as relações conflituosas entre uma adolescente e seu pai, inspirada em diversas histórias reais. Inicialmente foi composta para a música 'Cadê você?' do grupo Viela 17, mas com a gravação sonoplastia de Wty inicia o álbum do fim.

2. Números

Os versos são repletos de referências a números, reflete estatísticas, questiona a função social do encarceramento da juventude, a sociedade do consumo e a representação política no Brasil. Com dados atuais e questionamentos a ordem, sob produção musical de LP Brasil, Nexx e Thiago Raiz a faixa demonstra todo o peso deste álbum.

3. Destinatário

Uma carta. É assim que podemos descrever tal canção. Destinada a si e ao ouvinte, o rapper canta e semeia possibilidades e vida ao povo pobre da periferia. Daquelas canções pra ouvir nos momentos de dificuldade, daquelas músicas feitas pra elevar a esperança e auto estima.

4. Hip Hop em mim

Título homônimo ao livro do Rapper lançado em 2017, trata-se de um Gfunk em homenagem aos e as pioneiras do Hip Hop no DF. É um hino à cultura da capital do país. Versa acerca de experiência do artista, como no episódio que furtou um CD de bases do DJ Raffa numa loja Carrefour, bem como no episódio em que gravou um programa de Rap em cima de uma fita cassete de Axé Bahia da irmã. Uma daquelas músicas que já nasce como um clássico.

5. Azul e branco

História que versa sobre as primeiras sensações de uma adolescente ao sair de uma unidade de internação. Um história emocionante de redenção e superação. Composta durante oficina ministrada pelo artista na Unire - Unidade de Internação do Recanto das Emas, a música fora produzida por LP Estúdio e Frates Beat's e conta com participação de Leandro Solano.

6. O circo 2

A crueldade do ser humano o levou a encarcerar pessoas negras, diversas e doentes em circos e zoológicos humanos. Correlacionando essa história a fatos atuais como machismo, gordofobia e lgbtfobia o rapper nos provoca, fazendo olhar pra si e encarar os próprios preconceitos. A faixa trata-se de uma releitura da música lançada em 2012, premiada na terceira colocação do Prêmio Sesc Tom Jobim de Música. Antes de ouvi-la, recomendamos conhecer os documentários/entrevistas lançadas pelo artista. Mãe, Mulher e Negra / Pessoas Pequenas são audições necessárias e urgentes.

7. Verdes lucros

Direito a cidade, gentrificação e agronegócio são temas desta canção que convoca a união do campo e a cidade. Produzida por Gibesom e gravada por DJ Raffa é uma das músicas que apresenta a evolução do rapper na escrita, lírica e canto.

8. Duas crianças

Brasília possui o maior IDH do país, mas também é a região mais desigual.

Imagine refletir essa situação ao som da história de duas crianças. João, trabalha em semáforos vendendo balas e conhece Davi jogando video game dentro de um carro importado. Há semelhança? Talvez.

9. Punho Cerrado 1

Audio da cypher Punho Cerrado que contém participação de Mente Consciente, 3Janelas, Negro Thalles, Ideologia e Tal, Beto - Sobreviventes de Rua, Negra Eve - Mantendo a Identidade e Câmbio Negro. Um projeto único que agrega diferentes gerações do Hip Hop do Distrito Federal, que pretende romper as barreiras entre as mesmas, homenagear os percussores e circular as cidades. Assista ao clipe: https://bit.ly/2DI97Si

10. Teresas

Escrita em parceria com a poeta Rose Elaine, a música é uma história de superação da mulher periférica, que volta a estudar e trabalhar após sair de uma relação violenta. Produzida por Gibesom e com participação de Josi Araújo, em 2015 ganhou um CLIPE produzido por Donas Filmes e protagonizado pela atriz e poeta Meimei Bastos.

11. Um canto a Margarida

Com participação de Josi Araújo a música conta a história da agricultora paraibana Margarida Alves e sua luta em defesa dos direitos do povo camponês. Um Rap com sanfona e refrão marcante que ganhou um Lyric Vídeo tão emocionante quanto a música.


12.
Lobotomia

Talvez a letra mais antiga do disco, conta com participação de Marcos Mc e questiona a padronização e mercantilização do Hip Hop. Possui sampler de Evaldo Braga, já utilizado na música 'As primeiras letras do alfabeto'. É como se o artista provocasse um novo letramento ou questionasse o analfabetismo político da uma nova geração.


13.
Ponto final

Uma das faixas mais doloridas do disco. Nem todos e todas sejam capazes de ouvir coisas assim, ainda mais incluírem num álbum.


Nenhum comentário: