26 setembro 2019

Caminhão de mudança


Acordei mais cedo que nos outros dias
Ao meu lado algumas caixas e minha mochila
Demorei a levantar, me perdi olhando o teto
E ao redor, visualizando cada objeto

Vi a marca de poeira que o calendário deixou
Com aquela foto que tirei no colégio
Ele não servia, era de um ano anterior
Eu vestido de vaqueiro e um sorriso sincero

A despedida dos amigos foi com uma caneta
Não era final do ano, mas escreveram em minha camiseta
Eu sem forças, só consegui levantar da cama
Quando ouvi o barulho do caminhão de mudança

Mil perguntas, mil questões
O olho lacrimeja com mais mil palavrões
Como ficará a medalha desse ano
Se no interclasse não continuarei jogando?

"porra mano"

Lá na escola gostava de uma menina
E não tive o tempo de me declarar
Lembro que tremi quando ela escreveu na camisa
Por isso mesmo nunca vou lavar

Manhã de sábado, tão cedo
Sem tomar café sai de casa com muito medo
Dos amigos da rua não estarem acordados
Mas pela última vez pude abraça-los

"falô otário"

O caminhão só não é mais velho que o colchão
De uma família que pagava tanto de aluguel
Quantas vezes minha mãe pediu perdão
Pois o presente de natal foi esquecido por Noel

Nunca me importei com isso, verdade
Mas se pudesse me desfazia e não levaria algo pra outra cidade
Não entendo porque precisamos de geladeira
Se na maior parte do mês só tem garrafa d’água cheia

Mas pra minha surpresa, ela combinou com a cozinha: pequena
Não entendi, mas minha mãe disse que cabe em nossa renda
Estava feliz de verdade
Falou que venceu o aluguel e fila de anos da Codhab

Meu filho esse é seu quarto
Simples e dividirá com sua irmã Gabriela
Daqui a quatro meses sobrará um dinheirinho
Eu compro sua bicicleta!

(...)

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