29 janeiro 2011

Entrevista com Markão Aborígine



O Rapper Markão do projeto Aborígine cedeu entrevista ao portal de Breaking Max 5, explanando sobre seu último lançamento, o Vídeo Clipe MEIO SECULO, bem como fatos de sua carreira, linha ideológica de seu trabalho, etc.

Confira (Entrevista por B.boy Seta - MAX 5
)

O que fazia antes de começar a cantar e o que te levo ao mundo do RAP?


Iniciei minha caminhada junto ao Rap em 1998, transformando trabalhos escolares em poesia, em música. Hoje reflito e acredito que as poesias e o cordel de meu avó, Pedro Dantas, me inspiraram a também compor.

Ele é exemplo de vida para eu, tanto que a capa de meu CD é uma homenagem a ele; Nunca foi a uma escola, mas sempre me falava que o conhecimento, que o estudo era fundamental.

O que é o Rap e o Hip-Hop hoje para você?


Amor ao povo. Logo a defesa e comprometimento com este.

Pode falar sobre o seu estilo musical, como você define?

Eu acredito na essência da Cultura e tento a expor através de minha poesia.

Analisando historicamente o contexto social e político de onde os elementos da cultura Hip Hop surgiram identificamos a luta, o resgate da história de vida, auto afirmação, amor.

Nos tempos de hoje estes sentimentos se fazem presentes em minha música. Assim defino-me como “Rap amador... não por falta de profissionalismo, mas por excesso em amor”.

Além de cantar você também compõe e de onde vem sua inspiração?

Sim componho, porém já gravei poesias de Velho Mitchel e Luiz Vieira em um álbum de poesias. No meu segundo álbum gravarei uma poesia de Carlos Marighela.

Resumo minha inspiração em 02 frases: “Enquanto capitalizam a realidade eu socializo meus sonhos” de Sergio Vaz e “Sei que não participarei da colheita, mas tenho certeza que morrerei semente” de Frei Betto.

Fale um pouco sobre a sua composição favorita e porque ela é tão importante para você?


Pergunta dificílima, mas eu elegeria a canção O azul de uma caneta. Ela foi composta em 2001, e lembro-me que acordei numa madrugada e do nada a compus.

A mesma também foi responsável por me afastar de caminhos ruins que estava trilhando.
Ela versa em primeira pessoa sobre a busca por trabalho, um canto de resistência. Ao cantá-la sempre me emociono, e também vejo emoção nos ouvintes.

Quais são suas expectativas em relação a musica?

Creio que passo por um dos melhores momentos de minha carreira, mas o trabalho, o esforço e empenho têm que ser constantes. E a expectativa é esta, luta e multiplicação da luta. Costumo falar que Aborígine não é show e sim militância.

Meu objetivo com a música e organização através do Coletivo ArtSam é formar uma nova geração de artistas comprometidos com as causas sociais e articular o movimento candango em prol da ocupação de espaços e empoderamento.

Quem são suas referências? E porque o trabalho deles influencia tanto no seu trabalho?

Minhas influências vão de poetas nordestinos como Patativa e Zé Vicente, dos repentistas Rogério Menezes, Moacir Laurentino e Sebastião da Silva aos Rappers GOG e Face da Morte.

Por ter como berço uma família nordestina cresci ouvindo repente e embolada, indo aos Festivais na casa do cantador ou mesmo na Paraíba, de onde sou. Essas músicas abordam a vida do sertanejo, a esperança, fé e força do povo nordestino, que por si só são referência.

Quando conheci GOG e Face da Morte vi outro caminho a ser trilhado dentro de minha música. Enxerguei e compreendi que a causa de todas as mazelas da sociedade tinha que ser abordada e combatida. Pude conhecer minha própria história através do disco MPB (Manifesto Popular Brasileiro) do Face da Morte, que é um verdadeiro livro da revolução e luta popular brasileira, que ainda é omitido pela educação formal.

Se hoje sou visto como um Rapper contundente ou militante eu devo a minha raiz nordestina de força e esperança e a estes grupos como despertar pra luta.

O que você acho das edições anteriores do Max 5 e qual suas expectativas para o próximo MAX 5?

Eu tive o prazer de está presente em várias edições da Max 5, e sempre notei o profissionalismo dos organizadores, atenção e respeito aos artistas. As crews de breaking se envolvem no processo e a Max 5 é alvo de cobiça pra qualquer currículo.
Eu tenho um troféu da Max 5 que guardo com muito orgulho... Foi de uma batalha de rimas que participei.

Você está com um novo trabalho chamado “Meio Século”, fale um pouco dele, a mensagem que você quer transmitir para quem assistir ao Vídeo.

Bem, a canção MEIO SECULO foi escrita dentre 2004 e 2009, e aborda as contradições da dita Capital da Esperança.

Nós vivemos com a constante exclusão da cultura periférica, seja na participação de festividades como o próprio festejo aos 50 anos da Capital, seja na falta de equipamentos públicos de cultura fora do grande centro.

Moro em Samambaia, cidade com 21 anos, aproximadamente 250 mil habitantes, onde não há um teatro, cinema, mas sim o abandono do Parque 3 Meninas, que já serviu de escola para os primeiros moradores da cidade, biblioteca, parque.

Tentamos expor tais contradições no vídeo clipe e na música. O vídeo foi gravado em mais de 10 cidades do DF e Entorno, e os 400 km que percorremos foi para mobilizarmos a comunidade para a Construção de Outros 50, apresentando relatos sobre a construção de Brasília, que diferentemente de mini séries globais que santificaram o ‘erguer da capital da esperança’, houveram muitas mortes, trabalho escravo, chacinas pela mão da polícia, braço de JK.

Só modificamos a história a partir do momento em que a conhecemos. E o clipe é isto, um chamado.

Como você vê a questão do patrocínio para artistas urbanos. É questão de sorte ou de trabalho duro?

Eu entendo esta questão na verdade como formação. Ouvimos falar que hoje o que controla o mundo é o conhecimento, e isto é fato. Por vários anos o FAC – Fundo de amparo a cultura ficou nas mãos de artistas do Plano Piloto, por falta de conhecimento e formação – não generalizando – de artista da periferia.

Tem que trabalhar arduamente para nos apoderarmos destas políticas públicas, existe o FAC, financiamento via ONGs, Embaixadas, Emendas, mas também rever ou mesmo construir um plano de imagem, elaborar um projeto, identificar a melhor linguagem, entender sobre mercadologia e marketing para conseguirmos os devidos patrocínios para nossos eventos.

Isto se dar através de estudo.

Tem algo que não perguntamos e você gostaria de citar?


Hoje vejo irmãos e irmãs que são campeões de batalhas de rimas de breaking, mas que infelizmente largaram os estudos cedo. Isto me entristece, pois sei que quaisquer carreiras artísticas são arruinadas por falta de conhecimento.

Digo aqui as estes compas que voltem pra sala de aula. Tenha a mesma determinação diária de treinar na calçada de uma loja para abrir um livro. Pratique com a mesma convicção de sucesso quando treina seu plano de ataque, para além dos troféus da Max 5 trazer com orgulho aos seus pais o diploma da universidade.

Pois só assim seremos referencia para as crianças de nossa cidade.

“Só assim teremos um melhor footwork, melhor Freestyle, melhor traço no grafite ou melhor risco nas pickups, junto ao quadro negro e o branco de um giz, o movimento se movimenta e transforma o país”

Quem tiver afim de contratar seu show como faz para entrar em contato?
Fone: 9602 6711 & 3209 6711
E-mail: contatoaborigine@gmail.com / aboriginerap@gmail.com
@MarkaoAborigine

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