23 janeiro 2010

Nomenclatura


Eu canto em todo canto, mas quando canto não encanto
Pois meu canto em quem escuta só traz espanto
Pois analiso a conjuntura da inexistência da alegria
Dia e noite, dia açoite, noite fria
Daqueles que de madrugada com a mão calejada pedem a parada do ônibus
Se dirigem ao combate, mas no primeiro round soa o congo
Derrota. Ao invés do lábio amado sentem a lona
Após o máximo recebem o mínimo que compra a mortuária semi-pronta
Não é faz de conta, mas se conta o que se faz
Põe-se data de validade em humanos. Não mais trabalharás
Aliás somos ensinados a sermos individualistas
Aprendemos a administrar e não ajudar que precisa
Assim uma fila de pós-graduados, formados, doutorados.
A procura do emprego onde varrerão seus currículos rasgados
Resultado alcançado sem esforço pela elite
Que comemora com vinho do porto no conforto da Fashion Week
Um calçado onde o cadarço equivale a meu salário
Enquanto isso uma pessoa morre a cada três segundos por não ser alimentado
Quanto vale uma vida?
Responda-me você desta corja legislativa maldita
Recebe três vezes o salário, mas nada faz
Convocações extraordinárias para orgias sexuais
Tem mais. São estes que sustentam a exploração humana por contendas
Como o governador que mantém o trabalho escravo em suas fazendas
Eu canto e em meu canto questiono a pena branda
O cifrão criminoso, a guerra negra, a paz branca
Quem canta? O natural da terra Pindorama
Em luta nomenclatura Marcus Dantas

Enquanto houver opressão e violência
Haverá luta e resistência

No Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João.
No sertão onde a palma de gado se faz alimentação
Grão é cozido na lata de alumínio. Verdade
Em outra parte, berço 18 quilates, foi sustagem.
Tecle Sap. Entenda que os Brasis são bem parecidos
Não existem diferenças entre pobres e ricos
Apenas um erro em substantivos
Um é bandido e o outro cleptomaníaco
Frutos perdidos da família que não conversa
Uma muito pouco e a outra através das teclas
E é nessa terra, nesse contexto que escrevo meu texto, com o pretexto
De voltar a ação e uma ação com efeito
Pois meus feitos são bem feitos, denunciam os defeitos
Encontrados em deputados, senadores, vereadores, prefeitos
Estes que financiam indústrias, secas, enchentes.
Constroem atingidos por barragens, destroem a memória desta gente
Quantos indigentes que migraram em busca de gabinetes, escritórios
Mas tal sonho hoje migra para cidades dormitórios
Obvio. Aceita-se currículo com foto
A aparência leva a competência a óbito
Triste episódio. Mamãe me dá uma boneca
Papai me dá uma bicicleta. Ao pranto se entrega e molha a terra
Onde floresce o subemprego, a subsistência, o viaduto habitat
Mas a resistência vem em pequenas sementes que se tornam um belo colar
Eu canto e em meu canto pronuncio a esperança
Tocada em latas de tintas por jovens e crianças
Quem canta? O natural da terra Pindorama
Em luta, nomenclatura Marcus Dantas.

Enquanto capitalizam a realidade
Eu socializo meus sonhos

Eu canto e em meu canto uso a mesma narrativa
O discurso de uma vida coletiva
Que é vivida não por uma, mas por tantas.
Em luta nomenclatura Militância.

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