23 janeiro 2010
O azul de uma caneta
Acordo bem cedo, missão encontrar emprego.
Ônibus lotado, mal alimentado, vários do mesmo jeito.
Olhares em que só vejo insegurança
O corpo de pé, mas adormecida a esperança.
Pela janela noto boas condições, privilégios.
Contando moedas para o meu retorno ao inferno
Nessa curta viagem vejo dois mundos
Onde sou um degrau a ser pisado na escada do futuro
Sirvo pra servir, básico ao acabamento.
Barrado na entrada, porta fechada, suspeito, elemento.
Minhas mãos calejadas deram o nó em muitas gravatas
O suor de meu rosto ainda limpa suas privadas
A procura de mais uma chance... Aqui estou
Chegou minha parada minha jornada começou
Avenidas, endereços, entrevistas, imploro.
Dou meu sangue por um subemprego, por favor, vem logo.
Curriculum não tenho, mas me empenho palavra de homem.
Minha agonia se soma a de todos os meus clones.
Nunca, nunca, nunca posso desistir
Bater de porta em porta e o que vier aceito.
Lavador de chão, peão, servente, pedreiro.
Aceito o que tiver de braços abertos
Só pra ver meu filho com um caderno
Não hei de me render, pois meu Senhor és forte.
Um centavo honesto é um milhão perante o ouro do revolver
Mesmo que do lixo tire meu sustento
Da sobra do restaurante meu alimento
O dinheiro é necessário pro comer, pro vestuário.
Me contento com diárias, mas meu sonho é um salário
E na carteira de trabalho ver o azul de uma caneta
Hoje não realizado! No céu estrelas
Que iluminam meu desgosto, meu entristecer.
Juntamente a uma pergunta: Emprego algum por quê?
Talvez porque o segundo grau não tenha completado
Ou pelo endereço do meu lar, do meu bairro.
Entre o endereço de firmas perdi meu vale transporte
Dormi fora de casa não pode
Se eu pedir eu sei que alguém vai me ajudar
“Sai fora vagabundo tu quer é si drogar”.
Nunca, nunca, nunca posso desistir
Achei uma cobertura vou deitar, tenta dormir.
Espero que ninguém venha se divertir
Minha carteira de trabalho em branco vira um diário
Onde a caneta azul escreve o triste fato
Mais um dia cansado, sem emprego.
Portas se fechando, o caminho mais estreito.
Escutando insultos, vítima do preconceito.
“Não contrato bandido, não contrato preto”.
Pros homens um suspeito, humilhado pela madame.
Soco, sangue, e como se não fosse o bastante.
Sem emprego, sem experiência.
Será que acordar com consciência?
E ver minha família sem um salário
Ou será que esta noite morrerei queimado?
Nunca, nunca, nunca posso desistir
Não posso desistir, vou ter que prosseguir, pois a caminhada é árdua na nação;
É triste meu irmão, ver meu filho sem um pão, mas se hoje eu não consigo amanhã eu vou atrás.
Meu filho não vai mais chora, minha mulher vai se alegrar, uma vida boa eu vou lhes dar.
E tirarei as amarguras
O sofrimento, a dor sem cura.
E lhes trarei tudo de bom eu sei. Derrotado nunca serei.
Mãe por que o papai ta demorando?
Será que vai trazer o brinquedo que quero tanto?
Eu vejo em teus olhos que a senhora ta preocupada
A senhora sabe de alguma e não quer me dizer nada
Não, não é nada não, são apenas algumas contas que tenho para pagar
Vai assistir o desenho que já vai começar
Mas a esperança e o desenho foram interrompidos
Acharam na noite passado o corpo de um mendigo
E uma voz inocente que não exita em dizer
Mãe olha o papai na TV.
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